Entrevista com o presidente Wilson Périco
Há 39 anos, o Amazonas se preparava para ingressar no universo industrial do modelo Zona Franca de Manaus. O Distrito Industrial contava com algumas indústrias, pioneiras no enfrentamento dos gargalos que uma região remota como o Amazonas. Que papel representou a criação do CIEAM como entidade representante dos investidores?
Wilson Périco – O Centro da Indústria já nasceu com essa vocação mais ampla de defender a indústria dentro de um contexto maior de desenvolvimento regional, pois fortalecer e interiorizar a economia será sempre o melhor cenário para os investidores que aqui se encontram e os que virão. O capitalismo depende de uma distribuição inteligente da riqueza. Temos insistido em que os recursos dos fundos pagos pela indústria tenham exatamente essa vocação de diversificação e regionalização do desenvolvimento. Sem consumidores não faz sentido produzir bens. E sem recursos, o cidadão desequilibra seus propósitos.
FUP – Este era o projeto de Cosme Ferreira e Mario Guerreio, fortalecer a indústria a partir do interior?
WP – Sempre veio do interior a oferta de insumos e de recursos humanos para a geração de riqueza. O grande idealizador do CIEAM, vivo e atuante entre nós, nos dá até hoje lições dessa integração. Ele trabalhava com juta e malva na ocasião. E as fibras de nosso querido Mário Guerreiro, em sentido mais amplo, são a certeza e a clareza do que queremos para o Amazonas, a Amazônia, e de nossa contribuição para sairmos da crise. Ele se fazia acompanhar de Cosme Ferreira, Isaac Benaion Sabbá, a ousadia vigorosa de Moysés Israel e de Samuel Benchimol, Natan Xavier de Albuquerque, Edgar Monteiro de Paula, João Furtado, Djalma Baptista, Petrônio Pinheiro e Antônio Simões. Esses empresários, entre tantos que implantaram novas matrizes econômicas das bioindústrias, viram nas essências vegetais, no curtume de peles de peixe que hoje jogamos no lixo, na silvicultura e piscicultura e a na exploração mineral uma parceria natural e sensacional para a indústria. E esse debate se deu e se dá dentro do CIEAM, até hoje.
FUP – Na sua opinião qual é o principal entrave da economia do Amazonas?
WP: Nós temos que parar de acusar os outros. E os outros são Brasília, os parlamentares, o Sudeste, os governantes, nossos conterrâneos… Os problemas precisam ser resolvidos dentro do estatuto legal. Não há solução permanente fora da Lei. E a Lei ampara este caso de sucesso chamado Zona Franca de Manaus. Temos que exigir legalmente o respeito aos direitos e ser mais competentes para divulgar nossos acertos que são muitos. O Brasil não tem registro de mudanças tão consistentes conquistadas com apenas 8% de isenção do montante de renúncia fiscal que o país utiliza. Parece simples mas é objetivo. Sabemos trabalhar e precisamos de liberdade para fazer isso.
FUP – O que os empresários esperam dos próximos governantes e parlamentares?
WP: Principalmente que nos deixem trabalhar. Não faz sentido tanta burocracia. Não é inteligente gastar os recursos de adensamento e Interiorização do desenvolvimento em custeio da máquina pública. Os recursos pagos pela indústria para a formação acadêmica de nossos jovens devem ter sua aplicação debatida com quem paga a conta. Se a indústria encontrar na universidade soluções tecnológicas para seus gargalos, ela vai produzir mais, portanto, vai contribuir mais para compra de laboratórios e atração de especialistas para melhor qualificar nossa gente. Trabalhar em conexão significa produzir e ampliar ganhos em conexão.
FUP – Quais foram as grandes ações do Cieam para fortalecer, diversificar e regionalizar a economia do Amazonas?
WP: Vou contar uma história. Em 2012, integrei uma comitiva a Brasília para defender o direito do Polo Industrial de ter uma infraestrutura logística e portuária condizente com as demandas de competitividade das empresas aqui instaladas que pagam as maiores taxas portuárias e de transporte do planeta. Estava acompanhado da OAB, Suframa, Ufam, Assembleia, Câmara Municipal, Suframa, CNI, FIESP, e do pintor Moacir Andrade que levou para a Ministra da Cultura, Ana Buarque de Holanda, além de um belíssimo quadro, um depoimento de que era falso dizer que um porto na Colônia Antônio Aleixo, a 4 quilômetros do PIM, iria destruir o Encontro das Águas. A reunião era para sustar o tombamento do Encontro das Águas, um entorno onde se dá 80% da dinâmica produtiva do Estado. O debate foi histórico e inútil, pois até hoje essa questão está na justiça, em lugar de estar na polícia para interditar os inimigos do progresso inteligente e das iniciativas transparentes. Essa história tem a cara desta entidade, que temos orgulho de dirigir, com um Conselho de Alto Nível de compromisso com a indústria e com o Amazonas, para o qual renovamos nosso compromisso de continuar defendendo e acreditando que tudo poderá ser melhor. E será. Viva o Amazonas, parabéns, CIEAM, seus associados e valorosos colaboradores da entidade.
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