Por Alfredo Lopes
Há uma preocupação estrutural, no centro das prioridades da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com relação ao fim do emprego, um anúncio fúnebre, aparentemente catastrófico, que as autoridades utilizam para chamar a atenção da sociedade, e especialmente dos atores do setor produtivo e do poder público.
Estamos todos, na verdade, atarantados com a velocidade das mudanças, com o avanço tecnológico, responsáveis por zerar mão de obra, substituir o braço humano pela eficiência da impressora 3D, que recria o mundo e agita as consciências imutáveis. A economia digital associada à robótica – duas realidades dos tempos modernos absolutamente irreversíveis – desencadearam o desemprego em massa no modelo clássico de produção industrial. A questão que se coloca é: como utilizar esses instrumentos para criar novas saídas?
O profeta José Márcio Mendonça, jornalista visionário que nos deixou recentemente, alertava para o problema sugerindo que essas mudanças na economia sempre escondem oportunidades, nosso dever e desafio é identificá-las. A própria tecnologia cria novas brechas de emprego, ou seja, uns são destruídos outros aparecem. Portanto, a primeira saída é retreinar a mão de obra para essas novas realidades, novas oportunidades.
Porém, sabe-se que o número de empregos a serem criados nunca será o mesmo que existia até então. “Nunca mais este Polo Industrial de Manaus vai gerar 120 mil empregos que existiam antes da recessão.”, diz Augusto Rocha, líder empresarial e professor universitário de engenharia de produção e bioprospecção, recomendando a diversificação criativa das oportunidades com o manejo sustentável dos produtos florestais e minerais da Amazônia.
A tendência da civilização é o ideal grego do ócio, o que os italianos chamam de “dolce far niente”, no sentido de fazer a tecnologia trabalhar a nosso favor. A doçura de uma vida à toa, enquanto decresce ano a ano a indústria de transformação, a de serviços prospera. Na Amazônia, talvez, tenhamos a última fronteira naturalmente, que convém a este ser criativo.
Assim, é preciso também descobrir “novas” atividades, e um dos grandes negócios pode estar na chamada economia criativa, no desenvolvimento da biotecnologia, ou na tecnologia da informação e da comunicação, no caso aqui da Amazônia, com esse acerto monumental de floresta e genética, a busca de novos fármacos, da dermocosmética e da indústria nutracêutica, a partir da biodiversidade. Aqui, quem prestar atenção, vai descobrir as trilhas de uma nova economia.
A biodiversidade amazônica é muito mais rica, em sua fauna e flora, que a coreana. É preciso envolver num grande projeto o setor privado, a universidade e o poder público. É inaceitável que o Brasil tenha menos de 1% de seus cientistas atuando na Amazônia, onde o mundo civilizado está de olho desde a descoberta da América. Os países centrais já teriam posto milhares de cientistas e laboratórios para planejar e implantar um futuro mais saudável e mais próspero.
Perdulários e desprovidos de visão de futuro, nossos governantes queimam recursos públicos para os quais nada fazem no desafio de gerar riqueza. Aonde foram parar os R$ 2,4 bilhões recolhidos pelas empresas de informática entre 2012 e 2016? É provável que sequer os órgãos de controle sejam capazes de arriscar um palpite a respeito.
No mesmo período, o governo da Coreia investiu US$ 2 bilhões para atrair empresas privadas, em P&D, pesquisa e desenvolvimento, de nove áreas da economia voltadas ao futuro, priorizando inteligência artificial, realidade virtual, materiais leves, utilização do carbono, biotecnologia voltada para medicina, entre outros. Quem vai colher frutos robustos e quem vai continuar reclamando que viramos um país que só sabe gerar riquezas com as commodities da Agricultura?
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