Foto:Cristyellen Farias
Augusto César Barreto Rocha (*)
O que marcou a década em nossa região? Em minha opinião foi a falta de percepção sobre o futuro almejado, somado com um constante olhar para o passado e um comportamento perdido sobre o que se queria do presente. Faltou-nos nesta década um olhar para o futuro. Estivemos sempre atrás de defender um benefício constitucional (ZFM), apesar de um instante de crescimento, seguido de várias distrações, como a ponte do Rio Negro, o estádio para a Copa do Mundo, a reforma do aeroporto, a discussão sobre fazer ou não o Porto das Lages ou quão grande são as queimadas na Amazônia. Como sociedade, nos perdemos com o passado ou o presente e nos abstivemos da construção do futuro. Esta década que acaba amanhã, não poderá ser chamada de uma década perdida, mas claramente poderemos perceber como uma década em que estivemos perdidos, sem a construção de um projeto para o futuro.
Nos abstivemos da geração de riqueza e ficamos muito focados em como gastá-la. Faltou-nos a audácia de projetos para a indução de um futuro próspero, associado com a produção de riquezas. Neste período de dez anos poderíamos ter feito muito mais. Entretanto, tivemos dificuldade na união de esforços. As lideranças e a sociedade se perderam nos interesses menores, sem a busca de projetos que unificassem ideais de prosperidade.
O problema é nosso Este problema não é “dos outros”. É um problema “nosso”. Nós, como sociedade, não tivemos a habilidade de assumir os protagonismos que trariam a possibilidade de um futuro próspero. Não foi um problema de estrangeiros prescrevendo sobre o que fazer ou não fazer na Amazônia. Foi a nossa ausência de prescrição que foi o problema. Não foi uma questão de SP, BA ou MG não apoiarem a região, mas simplesmente o fato que priorizamos uma ponte e um estádio. Não que eles não tenham a sua importância relativa, mas certamente não seriam (como não foram) os elementos para a transformação da região. Sem perda de mérito, estes foram nossos grandes projetos da década.
E não está aqui uma crítica para A, B ou C. É uma questão para que ajustemos a nossa perspectiva de futuro, enquanto sociedade, para os próximos projetos. Ainda bem que estes existiram, de outra forma não teríamos nada. Estes projetos, foram audaciosos em seus momentos e pareciam fazer todo o sentido para quase todos nós. Abraçamos juntos a causa da Copa do Mundo e outras tantas. A questão é que poderíamos ter tido projetos mais audaciosos e pedido apoio do mundo para fazê-los. Projetos que induzissem algo mais. Hoje a situação é pior, pois não há projetos. Estamos apenas unidos pela defesa da ZFM, acorrentados ao passado e sem perspectivas de futuro.
Qual o futuro?
Se perguntarmos hoje quais os dez projetos mais importantes para a construção do futuro em nossa região para os próximos dez anos, teremos dificuldade de encontrar um consenso em, ao menos, cinco deles. Provavelmente não conseguiremos nenhum consenso. Precisamos urgentemente sanar este equívoco da divisão. Podemos ter divisões em muitas coisas, mas devemos encontrar unidades ou grandes maiorias sobre a construção de um futuro almejado e próspero. Enquanto não encontrarmos isso, seguiremos a caminhar como tartarugas e mesmo os voos de galinha serão impensáveis. O maior desafio que percebo para o início desta década é o encontro com o presente e com um futuro almejado, com a construção de objetivos audaciosos, compatíveis com a grandeza do Amazonas e da Amazônia. A nova década que inicia esta semana tem tudo para ser uma década de grandes realizações, mas desde que desistamos do passado, enfrentemos o presente e arregacemos as mangas para a construção do futuro.
(*) Professor da UFAM.
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