Há um ano, o economista Paulo Roberto Haddad, referência mundial no desafio da redução das desigualdades regionais – que lhe confere o cargo de consultor especial da ONU – alertou aos gestores da ZFM sobre os riscos iminentes provocados pela caótica paisagem da economia brasileira. Num país à deriva, sem política econômica, industrial, socioambiental e de ciência e tecnologia, em tempos de crise a ordem é beliscar recursos onde há geração de riqueza. Por isso, há algumas décadas, transformou a contrapartida fiscal do Amazonas numa torneira de irrigação de recursos na direção dos cofres federais.
Na sequência da irresponsabilidade fiscal do governo petista, a gestão do Brasil se resumiu a uma sucessão de decisões improvisadas, casuísticas e descoordenadas sobre os recursos fiscais e financeiros, onde a realocação desses escassos recursos priorizou a necessidade de cooptação de uma base política. Por isso, a gestão nacional tem sido marcada pela lógica predatória, tornando inevitável os ataques contra a Zona Franca de Manaus, onde o segmento dos concentrados salta aos olhos como o maior exemplo. Nada indique que essa conduta mudará a curto prazo seja quem for o novo presidente da República.
Daí a necessidade do protagonismo do setor produtivo, única forma de fazer valer e ser respeitado o avanço, os acertos e os paradoxos desta economia. E este protagonismo se impõe porque o Brasil se recusa a olhar e a entender os acertos da ZFM, tanto do ponto de vista da redução das desigualdades regionais, como da geração de valor da proteção florestal, não apenas para o Brasil como para o Planeta, sua saúde e equilíbrio climático.
O alerta não ficou no vazio
Flagrado em gravações comprometedoras, o Governo Federal passou a utilizar recursos dos fundos constitucionais de desenvolvimento das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste para, por exemplo, financiar o novo programa de crédito estudantil (FIES), pressionado pela bancada parlamentar das faculdades privadas. A razão da escolha dos Fundos Constitucionais simplesmente agravou a deplorável tragédia fiscal da demagogia social. Isso implicou na fragilização de um instrumento de política econômica, criado na Constituição de 1988, visando atenuar os desequilíbrios regionais de desenvolvimento no Brasil. Quem protegeu as esparrelas do poder, ganhou tudo que exigiu e o País quebrou.
Reconstituir um país que desceu acelerado na ladeira do descrédito, não é matéria para principiantes. E seus governantes, incluindo a relação do parlamentarismo caboco, – no toma lá dá cá do jogo político – vão demorar a recompor a reputação política internacional. Bandeiras vitais como a competitividade do setor produtivo seguirão tratadas com descaso, num contexto artificial de fim da recessão em que a economia se recompõe às custas da sangria dos direitos civis, ausência de investimentos em infraestrutura e destruição dos projetos de ciência e tecnologia.
Mesmo com discursos raivosos contra a contravenção crônica que tem destruído o país, os brasileiros seguem convictos de que o excesso de burocracia facilita a corrupção. O Amazonas, nos últimos anos, foi visitado mais de 20 vezes pelos gestores do alto escalão presidencial. E nunca foi tão espoliado em suas riquezas. O que esperar da nova gestão senão que trabalhadores e investidores comecem a trabalhar de costas para a economia. Essa rotina tem dado certo nos governos de messianismo popular, tanto de esquerda como de direita.
Vade retro, satanás!!!
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