Por que temos que ir a Brasília para definir interesses ou iniciativas do cotidiano manauara? Por que o critério de escolha dos gestores públicos se restringe ao apadrinhamento político e não ao currículo que ateste experiência, transparência e competência no cargo? Por que não são ouvidas as entidades, associações ou organismos da sociedade envolvidos com o órgão público em disputa?
Há uma deturpação institucional histórica nesse tipo de conduta que confunde o bem público como extensão dos domínios privados da manipulação da política pequena. Pelo andar da carruagem do poder movido apolítica do favor, tudo seguirá como antes nos quartéis da fisiologia do Abrantes.
Há pouco mais de um ano, quando o CBA, o fatídico Centro de Biotecnologia da Amazônia, pertencia à direção do Inmetro, ora enrolada com a polícia e a justiça. Razões de alcova removeram um dos mais qualificados gestores que esse Centro já recebeu, o pós doutorado em química Adrian Martin Pohlit. A remoção se deu como se pertencesse ao dito cujo senhorio do Inmetro e ele, como se fosse o proprietário e não um servidor.
A lógica do apadrinhamento logo se confirmou na escolha imediata do afilhado substituto, alguém que acumulou a sinecura sem abrir mão daquela onde estava aninhado. O gestor removido, antes de assumir o CBA, é importante recordar, reconhecendo que se tratava de uma obra construída com os recursos pagos pela indústria, tratou de consultar as entidades representativas do setor e proceder a um extenso levantamento de expectativas,tanto de serviços como de produtos. Por essa iniciativa, toda a equipe do CBA foi credenciada pelas entidades do setor produtivo.
Momento seguinte à montagem de seu Plano de Trabalho, ouvindo as demandas, sugestões e assegurando canais interativos de gestão local compartilhada, montou um formato não governamental de associação, reunindo cientistas, empresários e profissionais liberais comprometidos com os destinos do CBA e da região. De concreto, foram mobilizadas mais de 100 empresas de porte Internacional para adquirir produtos, serviços e modelagens de protocolo que movimentariam o mercado de bioprospecção. Na Fazenda Agropecuária Aruanã foram descobertos, nos resíduos da Castanha do Brasil, biomolécula de alto valor no generoso mercado dos dermocosméticos. O Inmetro, simplesmente, ignorou o acerto dessas condutas,e se fixou ou fechou negócios sombrios definidos no Rio de Janeiro.
Por que todos os ministérios com atividades relacionadas ao CBA – ciência e tecnologia, desenvolvimento e meio ambiente- se intitulam seus donos, disputando labaredas de poder nessa ridícula fogueira de vaidades? Enquanto isso, o mundo permanece de olho nas resinas,polifenóis, fibras, insumos cosméticos, farmacológicos e nutracêuticos já descobertos pelos cientistas sérios que por lá passaram. Eles foram removidos porque, além de fazer Ciência, não atentaram para o jogo sujo, oportunista e mesquinho da politicagem franciscana de que é dando que se recebe.
A entidade que se diz, alopradamente, vitoriosa da última disputa não foge a essa regra de ouro da premiação do favor, da sinecura e do aparelhamento institucional. Num golpe de mestre, tratou de enfiar atores públicos do porte acadêmico da instituição mais antiga do Brasil, a Universidade Livre de Manaus,hoje chamada de Ufam, à procura de tudo, menos assegurar a transparência e o interesse sagrado do cidadão. Devagar com o andor, o santo é de barro e precisa de espírito público e gestão transparente e compartilhada para receberas bênçãos da credibilidade da cidadania, assim não procedendo, a jogada tem nome e não passa de inaceitável tirania.
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