As 10 medidas contra a corrupção, apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF) foram reunidas no Projeto de Lei (PL) 4850/2016 e, como era de se esperar, se tornaram alvo da perseguição dos atores diretamente atingidos. Elas simbolizam uma campanha que traduz o sentimento da sociedade contra uma cultura deletéria que ameaça os alicerces da ordem social. As sequelas da corrupção se fazem sentir num amontoado de benefícios sociais interrompidos. Consolidar as 10 Medidas como referência universal é um caminho e uma bandeira emergencial. Foram mais de duas milhões de assinaturas, recolhidas em todo o país, na construção do decálogo da brasilidade, de um novo cenário de relações sociais transparentes.
As medidas reportam ao simbolismo dos Dez Mandamentos de Moisés. A estratégia de punição com o proibicionismo negativista, entretanto, deve dar lugar ao destaque das virtudes e ganhos da conduta fraterna. Revisitar e atualizar os códigos egípicios, hindus, babilônicos, entre outras civilizações, que buscaram motivar, através da ameaça punitiva, deve nos motivar a recompor a unidade harmoniosa e amorosa das criaturas com seu criador, como sugere Francisco, o de Assis e o de Roma. É mais eficaz, dizem os psicólogos, incentivar o discurso amoroso que seduz as pessoas para o exercício da bondade, da solidariedade fraterna na construção da unidade.
É nesse contexto que a exortação do conflito do “nós contra eles”, legitima, indiretamente, a apropriação do patrimônio público, e tem levado o país ao caos. Essa apropriação é histórica, cresce na mesma proporção da fragilidade institucional de uma Democracia claudicante e se agrava com a radicalização do conflito entre os grupos e organizações criminosas escondida sob o manto das agremiações partidárias. Urge conhecer para entender e brecar essa cultura sombria, senão ela se sofisticará, a despeito ou em decorrência da repressão. Isso exige mobilização da sociedade e envolvimento dos atores diretamente relacionados à formação e disseminação de valores éticos no ambiente familiar, educacional e espiritual religioso.
É compatível promover a unidade numa espaço competitivo que prioriza tão somente o mercado em detrimento do equilíbrio entre as relações sociais? Estaria na raiz da violência a relação entre o consumismo exacerbado e a necessidade do ganho incessante e inescrupuloso para conquistar os patamares de aceitação e respeitabilidade que a mídia publicitária sutilmente impõe? Como promover o mundo do ser, se todo o processo educacional está fincado nos valores do ter, ou seja, consumir a qualquer custo, onde o indivíduo é uma cifra mais do que um valor por sua dignidade e transcendências? Estas são as questões dos filósofos alemães da Escola de Frankfurt, fugidos do nazismo hitlerista, nos anos 1940, que padeceram uma implosão ética, estética e epistemológica, no sentido do questionamento de seus pilares de conhecimento ao chegar na América. Depararam-se com a sociedade do espetáculo e da indústria cultural, o legítimo e irresistível “american way of life da ideologia hollywoodiana. Fromm, Adorno, Habermans Horkheimer, Adorno, Marcuse…, cada um a seu modo, descrevem e condenam os padrões socialistas e capitalistas do Século XX na compreensão e atendimento dos enigmas e paradoxos da condição humana. Precisamos retomar essas questões, compreender os enigmas e paradoxos da violência, da corrupção e da exclusão social. As Dez Medidas são instrumentos, e a busca da unidade social, nossa meta, onde debater, entender e superar os conflitos se tornou nossa luta sem trégua, com determinação, em nome da transparência em todas as relações.
Alfredo é filósofo e ensaísta ([email protected])
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