É preciso deixar claro, na delicada e preciosa relação entre economia e academia, neste momento de adversidade inquietante, o que a universidade pode fazer para ajudar a economia a sair do atoleiro em que a má gestão a enfiou. Afinal, está em jogo o futuro da própria sociedade, de onde emerge e da qual depende a universidade. Neste momento em que os indicadores econômicos desabam todo esforço é pouco para encontrar respostas rápidas para o enfrentamento da crise. É nesse contexto que a definição dos temas e problemas do Doutorado Interinstitucional entre São Paulo-USP e Amazonas-UEA, cujo edital se encontra à disposição de todos, respeitadas as prioridades da instituição local, precisa focar as urgências regionais de gestão de projetos, infraestrutura, negócios e oportunidades. Ou seja, a academia precisa debruçar-se sobre as emergências da economia. Ou alguém tem outro encaminhamento mais adequado para o rescaldo socioeconômico e ambiental provocado pela desarticulação generalizada que tomou conta da região e do Brasil.
O Amazonas é o Estado da região Norte com maior número de incubadoras implantadas, entretanto, em termos de aceleração de empresas o empreendedorismo local padece de inaceitável paralisia. As ideias são incubadas mas não amadurecem as oportunidades que lhes deram origem. Poucas realidades reúnem tantas oportunidades num só lugar como este Estado, gigante em demografia e tímido em realizações. Não levamos em conta a conjugação do III PIB industrial do Brasil com todas as demandas de insumos e serviços imanentes, num contexto de 20% do banco genético da Terra para ser transformada em bionegócios. Falta gestão no sentido clássico de identificar metas, promover planejamento, identificar, conhecer e solucionar problemas, organizar recursos financeiros, tecnológicos, liderar movimentos, motivar pessoas, tomar decisões e avaliar, controlar resultados. Um beabá que é urgente encarar.
E quais são as urgências administrativas mais evidentes? Padecemos de um planejamento de curto, médio e longo prazo, devidamente elaborado por todas as forças e atores envolvidos. Esta foi a ideia motriz das Jornadas do Desenvolvimento, em 2016, que juntou empreendedores, poder público, academia, cooperativas e mercado. Por que não evoluiu? Por que Rondônia, Roraima, Pará, para citar vizinhos, desprovidos de incentivo fiscal, andaram mais rápido na direção de saídas na geração de emprego e oportunidades? Por que o Pará está anos luz à frente no segmento dermocosmético, refino sustentável de dos óleos vegetais, gastronômico, entre outros avanços robustos de sua bioeconomia? Aprendem sustentabilidade criando base econômica. As razões saltam aos olhos: além de uma comunhão política civilizada na defesa do seu estado, os vizinhos têm logística e energia mais competitivas. Por que não conseguimos, até hoje, precificar os serviços ambientais do polo industrial de Manaus, que emprega, gera renda, oportunidades e qualificação académica, evitando que a economia avance na direção da floresta? Somos um estado que grita aos sete mares que superou o modelo predatório desta civilização. Entretanto, é tímida nossa aposta em inovação, como criação de novas soluções para velhos problemas do empreendedorismo. Por que não abrimos as portas do polo industrial para novos segmentos produtivos, aqueles que podem recolher com inteligência e tecnologia as soluções que a natureza oferece para fazer a humanidade mais saudável, mais jovem, mais orgânica. Imitar a natureza é a obviedade dos bons empreendimentos, e a certeza de bons resultados.
O Peru fatura 1/5 bilhão/ano de dólares na agricultura orgânica. Sequer abrimos as fronteiras para seus produtores para que venham aqui vender seu know-how de saúde. O DINTER USP-UEA precisa sacudir a inércia académica local, tirando cada macaco do galho da acomodação para promover o mutirão interdisciplinar da inovação, conectado às empresas, atuais e em gestação. Este caráter interinstitucional tem um sentido mais urgente e mais abrangente, tecnológico, não apenas acadêmico mas sobretudo estratégico, na junção dos entes federativos, da comunhão entre pesquisa, desenvolvimento, sustentabilidade e mercado. Sem delongas conservadoras nem temor de avançar…
A suíça Givaudan, a maior e mais antiga empresa global de fragrâncias, sabores e cosméticos, firmou parceria com o InMetro, no apagar das luzes de 2016. O acordo é amplo e se consolidará em Manaus, afinal a Floresta da Tijuca é bucólica mas não tão pródiga em biodiversidade. Enfim, chegou(?) a hora do Centro de Biotecnologia da Amazônia, ora atrelado ao Instituto e à Suframa. Publicada no Diário Oficial da União, em 27/12/16, a parceria prevê cooperação técnico-científica intercâmbio de informações, treinamento e formação de pessoal especializado e desenvolvimento de projetos nas áreas de ingredientes para alimentos, cosméticos, perfumaria e higiene pessoal. Descobrimos o rumo à bioeconomia, algo que parece óbvio, e vital, nesse momento de indefinições.
Quem segura a balança comercial do Brasil é o agronegócio. Entretanto, esta atividade responde por 70% das emissões do Brasil, o que compromete a reputação ambiental do Brasil segundo os ambientalistas. Um deles, o climatologista Carlos Nobre, do INPE e da Academia Americana de Ciências, defende a Bioeconomia, para reduzir as emissões. “Com 100 produtos da Amazônia na área de cosméticos ou fármacos, em 10 anos dobramos a riqueza gerada pelo agronegócio” . Em busca do tempo perdido ou vamos nos perder no tempo? Há 17 anos, na gestão FHC, foi criado o CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, justamente para agregar o polo de bioindústria na Zona Franca de Manaus. Na era Lula, o CBA ficou 14 anos à espera de um CNPJ para operar negócios e parcerias. Empresas como a Novartis e a Givaudan foram expulsas da Amazônia sob o argumento paranoico da biopirataria. O retorno da Givaudan sinaliza recuperar o tempo perdido de um Brasil que precisa descobrir e profissionalizar sua gestão, leia-se, a Amazônia. Tomara!
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