Omnia vincit labor, alguém duvida? Nesta sexta-feira faleceu José Ribamar Bentes Siqueira, “o melhor amigo que alguém poderia querer”, como testemunhava Petronio Augusto Pinheiro – um pioneiro destacado na galeria dos empreendedores da Amazônia – ao narrar momentos de adversidade em que as verdadeiras amizades entram em ação. Eram dois discípulos dos Salesianos de Dom Bosco e de Cosme Ferreira, com quem levaram ao limite da obstinação a frase célebre do porta Virgílio, lida por quem subia as escadarias Colégio Salesiano: Omnia vincit labor, o Trabalho vence tudo. Eles anteviram, com as lições de trabalho do mestre Cosme Ferreira – escritor, empresário, parlamentar – a utopia da economia regional a partir da floresta. E foi com poesia e determinação que fundou e fez florescer na presença e colaboração dos dois amigos – ao s quais se juntou mais tarde Antônio Andrade Simões – a Companhia Nacional de Borracha, a Companhia Brasileira de Plantações e a Companhia Brasileira de Guaraná, empresas focadas na convicção visionária da prosperidade econômica estribada no aproveitamento da biodiversidade amazônica. Precursor da biotecnologia, e um apaixonado pela recuperação da economia do látex, Cosme Ferreira mobilizou cientistas e cobrou políticas públicas para materializar seu projeto. A Companhia Nacional de Borracha era uma empresa de beneficiamento, pesquisa e comercialização do látex, onde funcionava um laboratório experimental da Hevea brasiliensis, o que ilustra a teimosia e a teimosia desse cearense caboclo em restaurar a economia amazônica perdida com o fracasso do Ciclo da Borracha.
Petronio e Ribamar – em suas experiências, valores, percepções e objetivos – eram gêmeos e complementares nos desafios que se colocaram, entre eles produzir cerâmica fina, padrão italiano, para o glamour que bem acostumou os nativos. Chegaram juntos à rotina frenética da Associação Comercial, que Siqueira costumava chamar de Ministério do Desenvolvimento, onde o ministro era Cosme Ferreira, o orientador do doutorado informal de Amazônia, onde os dois amigos se qualificaram. Perseguir um novo paradigma de desenvolvimento, a partir da agregação de valor dos produtos da floresta, pela inovação tecnológica e pesquisa científica, permanece o maior desafio da Amazônia.
Siqueira voltou-se para área de Humanas, daí o apelido de Categoria e Petronio passou a aliar sua obsessão amazônica com empreendedor um novo modelo de desenvolvimento. O amigo Siqueira, no pós-guerra, teve a oportunidade de freqüentar a Universidade da Califórnia, depois um curso de pós-graduação em Michigan, nos Estados Unidos, em Ciências Humanas. Isso lhe custou um convite de Cosme Ferreira para assessorar grupos de Estudos na Academia Amazonense de Letras, onde o empresário-poeta tinha assento. E foi essa bagagem, para debater a Amazônia, o futuro, as oportunidades, os desafios, que fez o Governo Federal convidar Ribamar e Petronio para ajudar a desenhar um plano de desenvolvimento inteligente para a Amazônia. Eles ficaram 30 dias confinados em salas de estudos e planejamentos em Brasília no início dos anos 80. Eles haviam integrado e organizado a Universidade do Juruá, um grupo de estudiosos, empresários, homens públicos que se reuniam na casa de Petronio Augusto Pinheiro, na Antiga Rua Paraíba. Alguns deles: o jornalista Epaminondas Barauna, o coronel José Alípio de Carvalho, o empresário Ambrósio Assayag, o padre Cesare de La Rocca, fundador do projeto Aché na Bahia, o coronel Guilherme Fregapanni, o coronel Orlando Garcia, com a visão militar desenvolvimentista, o lendário médico Heitor Dourado, os pioneiros Mario Guerreiro, Moyses Israel, Edgard Monteiro de Paula, e José Lindoso, que chegou a governador, o almirante Roberto Gama e Silva, o arquiteto Severiano Mário Porto, os economistas Mário Antonio Susman e Rui Lins, este assumiu a Suframa, todos sob o lema Omnia vincit labor, a determinação, o conhecimento e o trabalho para levar adiante a utopia amazônica, razão de viver de Cosme Ferreira, de Antonio Simões, de Petronio Pinheiro e José Ribamar Bentes Siqueira, o melhor amigo. Descanse em paz, Categoria!
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