CARTA ABERTA A MARCIO SOUZA
Prezado Marcio Souza, decididamente “ o equívoco continua”, dessa vez acompanhado de inferências deselegantes e das repetidas ilações sem fundamento. Como cidadão, me gratifica ser Diretor da Federação das Indústrias, FIEAM, sem remuneração. Sou consultor do CIEAM, Centro da Indústria, sem sombra de dúvidas, o fórum mais arrojado na defesa do Amazonas. Sim, do Amazonas, principal beneficiário do capitalismo que as empresas transnacionais representam. Tenho contrato para escrever – três vezes por semana – sobre o papel desta economia com ações importantes, como o financiamento integral da UEA, a maior instituição multicampi do país. Sem a ZFM – você ainda não disse o que prefere? – estaríamos detonando a floresta, como alguns vizinhos, ou entregues à economia do narcotráfico. A favelização de Manaus e o IDH vergonhoso de alguns municípios não sao causados pela ZFM. “Follow the money”. Siga o dinheiro para interiorizar a educação e o desenvolvimento: nos últimos 5 anos, R$ 6,2 bilhões nos três fundos estaduais.
A quem agrada sua artilharia pesada e desprovida de fundamentação contra a ZFM, a indústria de “beneficiamento”? Há muita semelhança – num olhar mais acurado – entre sua posição e a do governador paulista Geraldo Alckmim, do PSDB agremiação a que você tem servido desde FHC. Na discussão da reforma fiscal, o tucano disse – a propósito da alíquota da ZFM – que o país corre o risco de se desindustrializar e de estimular a expansão de “cidades duty free”, em referência estúpida à Zona Franca de Manaus. Certamente soltou rojões quando leu que a “economia da ZFM é um câncer”. São Paulo tem 137 612 mil indústrias, quase 30% dos estabelecimentos industriais do país, enquanto o Amazonas tem apenas 3002, 0,6% do total. Seus honorários, Márcio, como presidente do Conselho Municipal da Cultura devem ser pagos pela indústria da ZFM, que recolheu, apenas em impostos sobre serviços, nos últimos três anos -IPTU e Alvará de Funcionamento à parte – mais de 60% da receita municipal, segundo o portal Semef.
Para afirmar a construção do Bolchevismo na Rússia, Lenin escreveu, em 1920: “Esquerdismo, a doença infantil do comunismo”. Ele havia feito uma revolução socialista sem indústrias, mas puxou a orelha dos comunistas ingleses, alemães e austríacos, que defendiam a luta de classe entre patrões e operários. Eles atrapalhavam as estratégias de poder de Lenin e sua revolução improvisada. Esse Esquerdismo virou comunização dos cofres públicos, a começar pela ZFM. O saque foi iniciado na gestão tucana, marxistas arrependidos, com seus mensalões, o PROER, o Eximbank/Raytheon/SIVAM. Em seguida, foi exacerbado pelo sindicalismo maroto, ora afastado. Embora apreciador de sua alentada bagagem literária amazônica, percebo que lhe falta, como um cientista social que a Ditadura Militar atrapalhou, atenção maior ao legado do pensamento liberal. David Hume, Adam Smith, Edmund Burke, Tocqueville, T.S. Eliot, Friedrich August von Hayek, para citar alguns autores de cabeceira de Roberto Campos, o Bob Fields, Lanterna de Popa. Esses caras defendem o Capitalismo, o livre mercado, a propriedade privada, a liberdade de expressão e de religião que o Nazismo alemão e o Socialismo soviético trucidaram. Esses caras deram o fundamento epistemológico da geração de riqueza como premissa do pluralismo de ideias, da democracia representativa, da meritocracia para se contrapor ao autoritarismo dos burocratas e fisiologia sindical. A defesa da emancipação feminina está associada ao livre mercado, sabia? A redução do Estado aparece como fator de redução do compadrio e da corrupção. Você publicou no Sudeste, nos anos 80, todo seu rancor contra Gilberto Mestrinho, e contra o Amazonas, com seu folhetim maledicente do Boto Tucuxi. Gilberto o perdoou, adotou o Boto, e lhe retribuiu com a aquisição de sua “ Breve História da Amazônia” para a rede pública estadual em 1994. Ele ficou feliz, naquela ocasião, com sua presença, no lançamento do seu livro, “Amazônia, terra verde, sonho da humanidade” do qual fui editor, depois de inesquecíveis horas de entrevistas. As gravações comprovam a autoria, apesar de muitos autores do oportunismo tentassem usurpar-lhe a façanha. Espero seu basta à continuidade do equívoco, Márcio, e reitero o convite para integrar-se ao mutirão cívico de defesa da ZFM, ajudando a briga, publicamente, pela retenção regional da riqueza aqui produzida, e a utilização transparente dos diversos fundos bilionários, que a ZFM – industria, comércio e agricultura – recolhe a favor de nossa gente. Vamos, ou não vamos, nessa?
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