A que se destina este discurso raivoso contra a Zona Franca de Manaus, publicado na Critica de domingo, nobre conterrâneo Marcio Souza? Palavras têm poder, libertam, mas também confundem, deformam, ou disfarçam propósitos inconfessos. O bom escritor sabe bem do que estou falando. Sobressaltado com tantas impropriedades, desinformação e sentenças sem sustança, devo lhe dizer – e agradecer – que a leitura da Expressão Amazonense, nos anos 70, foi decisiva em minha trajetória acadêmica. Acolho, também, suas afirmações quanto às lideranças políticas corrompidas, desastradas e despreparadas que se refestelaram em torno da economia da ZFM – e com o furdunço em que se transformou o projeto original do Pereirinha. É injusto, porém, tirar dele, Francisco Pereira da Silva, um respeitável parlamentar federal do Amazonas, a criação da Zona Franca de Manaus, em 1957, depois redesenhada no governo militar de Humberto Castelo Branco, por pressão da Associação Comercial do Amazonas. Roberto Campos e Arthur Amorim, em 1967, trabalharam na elaboração do projeto com o especialista em empreendimentos, o pioneiro Moysés Israel, com quem haviam organizado a aquisição da Refinaria de Manaus, em Los Angeles, em 1955. Seu ressentimento histórico, Márcio, padece de consertos. As empresas não sorvem um centavo dos cofres públicos. E só auferem benefícios fiscais quando emitem nota fiscal de seus produtos. Vá visitar o polo industrial. A Honda, a que vc se refere, tem 80% de verticalização em alguns modelos de motocicletas, e atrai seus talentos entre os jovens da rede pública estadual. Não é indústria de montagem, muito menos um câncer, pois câncer mata, e quem dá emprego, educação técnica e humanística de nível superior colabora com a preservação da vida. Ou o modelo predatório da vizinhança lhe agrada? Sai a ZFM e entra o narcotráfico? A regra vigente é a do capitalismo, onde nos inserimos, não há notícia de outra para gerar riqueza, nos padrões de troca e mercado, desde os fenícios.
É também equivocado dizer “…na verdade quem estimula a renda estadual é o comércio”. Há uma roda de engrenagem na Economia, Márcio, desde Adam Smith, onde o varejo funciona se a indústria gera emprego, serviços e produz. Além de pagar integralmente a Universidade do Estado do Amazonas, a ZFM financia o Centro de Educação Tecnológica, que já ofereceu qualificação técnica para mais de 600 mil interessados em ter uma profissão. Junto com os fundos para o ensino, a ZFM repassa R$ 1 bilhão para os fundos das cadeias produtivas do interior, de turismo e interiorização do desenvolvimento. Essa Economia gira com destacada participação do Comércio, sim. E daqui sai mais da metade das receitas federais de toda Região Norte. A ZFM recolhe anualmente mais de R$ 3 bilhões destes fundos, incluindo as taxas da Suframa e as verbas para pesquisa e desenvolvimento. Este ‘blastoma”, a rigor, é o maior acerto fiscal da História republicana, e o único que monitora a renúncia fiscal prevista na Constituição, segundo o TCU. Em vez de praguejar, você deveria integrar-se ao coro de cidadania que cobra a aplicação transparente dessa dinheirama.
Recomendo que leia a tese de doutorado do pesquisador Jorge de Souza Bispo, Criação e Distribuição de riqueza pela Zona Franca de Manaus, FEA/USP: “… toda a riqueza produzida na ZFM, 54,42% vão para o governo, 27,28% para os empregados e 1,82% para os proprietários. No restante do País o governo recebe 41,54% da riqueza produzida, os empregados com 36,31% e os empresários com 6,44%.” Por iniciativa de suas entidades, a ZFM cobra do poder público a aplicação desses recursos para interiorizar o desenvolvimento. Temos 10 municípios entre os 50 piores IDHs do Brasil. Inteligente e producente, neste mimento, é recolher o dedo da acusação – eles costumam esconder três dedos que nos entregam – e abrir mãos e braços da solidariedade transparente, para corrigir os erros do percurso, desenhar e materializar a distribuição de riqueza com equidade e comunhão de talentos e caminhos. Vamos nessa?
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