Aos troncos e barrancos, o CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia), o desgastado e desejado projeto de fazer bioindústria na floresta, começa a ganhar nova configuração. Seu novo gestor, o cientista Adrian Martin Pohlit, um bioquímico do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia), com alentada bagagem de pesquisas e soluções de saúde na área de doenças tropicais, dá um impulso à iniciativa de recomposição do projeto iniciada no entendimento entre Suframa, Inmetro, e entidades do setor produtivo. Agora vai! Vai? Tem que ir porque o momento exige respostas, e o grupo que assume o CBA priorizou parcerias transparentes e muita criatividade, consultado demandas locais, alinhando-se às empresas, aos atores do estado, do mercado e das iniciativas que estão em curso e outras que precisam arranjos da vontade política e do detalhamento do plano de negócios. Difícil tem sido escolher por onde retomar, pois os recursos são parcos e só com pesquisa, e boa vontade – e sem CNPJ – ninguém vai a lugar algum, diz o pesquisador Luiz Rocha.
Entre as demandas e os caminhos cabe exemplificar o câncer, como expectativa emergencial permanente, e a copaíba como uma obviedade ao alcance da mão.
Todos sabem, aqui e, fortemente, na China – para onde já saem toneladas de óleo de copaíba da floresta – que este é o mais poderoso antibiótico e anti-inflamatório natural conhecido no planeta. É considerado o óleo da vida! Tem propriedades curativas, regeneradoras, nutritivas e neurotônicas. Regula a oleosidade da pele. Age também como regenerador dos tecidos e tem bons resultados para 9 tipos de câncer, segundo estudos executados pela Unicamp, a Universidade Estadual de Campinas-SP. E não é só ali que os estudos avançaram, Viçosa, Federal do Pará e do Amazonas, diz um dos cientistas do CBA, Antônio Siani, pesquisador do Instituto de Tecnologia em Fármacos, Far-Manguinhos, Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro. Com o Inmetro, já se faz no Brasil a análise química quantitativa para a padronização do óleo de copaíba por cromatografia em fase gasosa de alta resolução, processo vital para certificar, incentivar e consolidar a indústria, a bioindústria, que esse instituto de Metrologia e Biotecnologia, ora vinculado ao CBA, tem feito, com o guaraná, por exemplo, fonte de frequente falsificação com guaraína artificial.
As substâncias sintetizadas em laboratório a partir de componentes isolados do óleo de copaíba apresentaram resultados importantes contra diversas linhagens de câncer e contra a tuberculose, inibindo ou matando células doentes, segundo estudos consolidados e em andamento, averiguando se e como as substâncias afetam também as células normais, e as dosagens em concentração que não tóxica. As toneladas compradas pela China, com certeza, já não são para definir esses gargalos, mas para produzir fármacos para infecções e inflamações em geral; anti-séptico e cicatrizante em feridas, eczemas, psoríase, urticária, furúnculos, nas seborréias e irritações do couro cabeludo; doenças das vias respiratórias, como tosse, gripe, resfriados, bronquite e inflamação da garganta; disenteria; depurativo do sangue; incontinência urinária; corrimento vaginal. E câncer!!!
O cientista amazonense, Valdir Florencio da Veiga Junior, um dos maiores especialistas em copaíba no país, endossa as dificuldades apontadas por seu colega Paulo Benevides, em empreender na bioindústria de produtos amazônicos, com as evidências seculares como as da copaíba, em virtude dos embaraços criados pelo Conselho Gestor do Patrimônio Genético, o CEGEN, órgão do Ministério do Meio Ambiente, responsável pelo controle de acesso à biodiversidade. Para Adrian Pohlit só há um caminho: trabalhar em conjunto e sintonia com o CEGEN, cuja presença proativa, como sugere a nova Lei de Acesso, vai ajudar na partilha dos benefícios com as populações tradicionais, ao instalar-se na sede do CBA, e onde haja projetos transparentes de bioindústria, que a floresta, e economia e a prosperidade regional exigem.
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