A temática dos Debates Produtivos, em sua segunda edição, sobre Produção de Alimentos, focaliza um dos mais emergenciais e desafiadores problemas da humanidade. Como fazer para alimentar 7 bilhões de indivíduos? “Quem não alimenta não governa”, diriam os estrategistas. Esta questão é também uma insistência sintomática do Cieam, Fieam, Faea, as entidades de classe do setor produtivo – responsáveis por oferecer alimentação de boa qualidade e a preços justos para seus trabalhadores – e para a Afeam, a Agência de Fomento do Estado, que está gerando emprego no beiradão amazonense com as verbas da indústria para interiorizar a economia, e que vê na temática um desafio essencial. Daí, a partir dos Debates, emergirem alguns compromissos estrategicamente alinhavados. Todos eles focados na direção de partilhar força, talentos e caminhos. Além de produzir alimentos – o Amazonas produz só 10% do que come – a hora exige propor alternativas de respostas rápidas com identificação de novas modulações econômicas para fazer frente aos estragos que o encolhimento da indústria indiretamente provocou na arrecadação estadual.
É grave interromper o cronograma de pagamento das bolsas de estudos, como é grave, mais ainda, comprometer o atendimento urgente de saúde da população desfavorecida por consequências de uma crise que chegou mais forte do que parecia, para atores que não tem muito o hábito de planejar, portanto de prever e de se organizar. O jeito e o mote, portanto, é reforçar e consolidar parcerias entre quem pensa, empreende, inova, fomenta e produz soluções. Como dizia Dori, a peixe azul do filme Procurando Nemo, diante da perda momentânea da rota e do objetivo da viagem. “Continue a nadar, continue a nadar!”.
Neste contexto, e ainda a propósito do fechamento dos Debates, ocorrido no apagar das luzes de 2015, que ocorreu quase simultaneamente ao desfecho da Conferência do Clima, da Organização das Nações Unidas, o alerta do professor Jaques Marcovitch, um parceiro decisivo no desafio de ampliar na área de pesquisa e desenvolvimento as relações industriais e comerciais entre São Paulo e Amazonas, trouxe – no contexto dos primeiros alertas da aludida Conferência – os compromissos, responsabilidades e, sobretudo, oportunidades para a Amazônia. Assim como a Encíclicas do Papa Francisco, sobre a questão climática e ambiental. Laudato Si, a Amazônia ocupa um papel fundamental na discussão do futuro do planeta e da própria sobrevivência do homem na Gaia. E entre esses itens, o alerta do professor destacou a questão da segurança alimentar do ponto de vista político, nutricional e empresarial como uma das atividades decisivas no conjunto dos compromissos dos países em cuidar da saúde e da temperatura da Terra. Não é só produzir alimentos é saber como fazê-lo à luz da saúde global.
E em se tratando de produção de alimentos, as metodologias utilizadas pelo país à vista de seu potencial agrícola, agroflorestal e aquífero disponível, temos de reconhecer que caminhamos para trás, a despeito das conquistas do agronegócio. Nossos produtos correm o risco da exclusão do mercado se não forem ajustadas as questões socioambientais dos pesticidas na produção e do perfil das rações. O vizinho Peru é hoje uma referencia global de alimentação orgânica, ou seja, ambiental e sanitariamente correta. O café, do qual fomos o primeiro produtor por décadas seguidas, um lugar hoje ocupado pela Colombia, tem no Peru o segundo maior produtor e exportador de café orgânico, atrás apenas do México. Em 2013, o Peru exportou US$ 230 milhões de dólares de produtos orgânicos para Estados Unidos, Holanda, Canadá, Alemanha e Bélgica. Os principais produtos foram: café, banana, cacau, quinoa, jojoba, manga e maca. A castanha do Brazil, BN de Brazilian Nut, na verdade, é 70% Bolvian Nut. Ninguém aqui está reclamando que os outros avancem. Constata-se, apenas, que andamos para trás, na inclusão de tecnologias adequadas ao processo agrícola. E sequer chamamos o vizinho pra conversar… Produzimos, discretamente, 30 ton. de guaraná orgânico em Urucará, exportado para a França, mas não sabemos como vender, em escala, os peixes da Amazônia, seus temperos e acompanhamentos, os nutracêuticos, os cosméticos, a farmacopeia da eterna juventude, a evolução da biologia molecular que Alfred Wallace percebeu quando aqui chegou, há mais de 150 anos, o embrião biotecnologia, fio da meada da evolução, da perenidade humana e da prosperidade social.
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