Antes da onda empresarial que começou a promover a imagem das organizações pelas condições de trabalho oferecidas, a BrasilJuta, empresa de Mário Guerreiro e Adalberto Vale, fundada nos anos 50, de juta e malva para a indústria têxtil, era o sonho do consumo laboral de quem vivia em Manaus nos anos 80. Lá estava Ozeneide Casanova, assegurando condições dignas para os trabalhadores da tecelagem: assistência médica, alimentar, esportiva e comunitária. O foco de sua trajetória era a pessoa, todas as pessoas. Este valor e visão de mundo aparecem no best seller “Tornar-se Pessoa”, do psicólogo americano Carl Rogers. Ele redimensionaria sua obra se tivesse conhecido Ozeneide. Tornar o indivíduo em pessoa foi razão de ser e viver, o sujeito e o objeto de sua obstinação. Por isso, a desconcertante e alegre afirmativa do filósofo francês Gabriel Marcel “Amar alguém é poder dizer à pessoa amada: tu não morrerás!” se aplica ao legado deixado por ela, em seus textos escritos com atitudes, testemunhos, escolhas e utopias. E se a perenidade – a negação da morte como um muro contra o qual se despedaçam nossos projetos de vida, no existencialismo Sartreano, – é a grande ambição da humanidade, Ozeneide se eterniza em cada gesto de quem fez da própria vida a negação do outro como mercadoria e sua afirmação como pessoa, portadora inalienável da dignidade humana.
A afirmação de Gabriel Marcel, um filósofo francês que se contrapôs ao niilismo e dadaísmo dos anos sombrios da opressão nazista, emerge na postulação da vida em contraponto à angústia do caos e da morte experimentadas nas duas guerras que abalaram o mudo no século XX. Ele faz a leitura do existencialismo ateu de Sartre e Merleau-Ponty e cristão de Albert Camus, para desfraldar a bandeira da vida, muito além da componente transcendental, religiosa da doutrina eclesial, e pontuar a beleza do verbo amar, no sentido original e dramático da palavra que remete a gestos, conjugados sempre na primeira do plural. Contra a morte, cabe recordar Salomão no livro da Sabedoria: “Deus não fez a morte nem se compraz com a morte dos viventes… Ele tudo criou para que subsista”. Ou seja, nossa vocação é a imortalidade desde que avancemos na direção da descoberta humana, demasiadamente humana, posto que divina, do sentido amoroso da partilha.
Num de seus últimos textos, sempre carregados pela energia transformadora da comunhão, Ozeneide Casanova Nogueira escreveu os desafios de um ano novo: “… no campo profissional é hora de atentar para as mudanças de profissões que o mundo moderno exige. Novas áreas de atuação exigem novos talentos e novos conhecimentos, representando novas oportunidades no mercado de trabalho. Ecorrelações, lixólogo, condutor de drones, curador digital, tutor de curiosidades são apenas alguns exemplos de novas profissões advindas do mundo tecnológico e de um novo mundo novo. A emoção será entender o que cada uma exige de habilidades e competências para exercê-las, tanto no campo pessoal como familiar, onde as emoções ficam por contas da formação de novas relações, novas famílias, formaturas, vestibulares, viagens, nascimentos, festas comemorativas, as novas conquistas (…) O importante mesmo é aproveitar 2014-15 mesmo que seja rápido, mas que seja intenso e que não haja arrependimentos por deixar de aproveitar qualquer que seja a oportunidade, o momento, o convite, o evento, a ação. O ideal é passar por ele, não deixar ele passar por você.” Com essa vibração, foco e fé, ela nos deixa uma missão: revisitar para compreender, consolidar, ampliar e perenizar seu Pacto pela Educação, a maneira mais oportuna de simbolizar seu compromisso com a vida, repartida pela informação/formação de novas posturas, para as novas gerações, fincadas nos antigos e eternos valores que a Educação representa: o tornar-se pessoa!
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