“A borboleta que tenho nas mãos está viva ou morta?”, perguntou o jovem cientista a um monge sapiente para testar seu discernimento e prontidão. “Se eu disser que ela está viva, ele vai esmaga-la para negar minha dedução, ou a manterá viva se eu disser o contrário”, ponderou consigo o atento sábio. “A resposta para sua pergunta está em suas mãos, meu caro, e só depende de você esclarecer o enigma que você mesmo criou”, concluiu o monge, a ilustrar este momento de incertezas pelo qual o país atravessa.
Para onde vai uma nação cuja governança política se divide entre apagar os próprios incêndios e se livrar ou justificar um buraco institucional que ela própria causou? Como imaginar saídas para um leque de prioridades que corta R$ 9 bilhões do investimento em Educação, quase 15% dos recursos destinados a recuperar o tempo e as oportunidades perdidas? Como buscar saídas para a mudança se as verbas de pesquisa e desenvolvimento, instrumentos para promover alteração e melhoria nos paradigmas de crescimento e diversificação produtiva, igualmente padecem o corte que decorre de gestão inepta que fez desandar o país? Como preparar as novas gerações para assumir as rédeas da governança nacional se a classe política – além de degringolar o ensino – conseguiu que a opinião pública associasse gestão pública a corrupção e manipulação do erário? Ou seja, meter-se em política hoje significa ganhar dinheiro fácil e topar a decisão de sujar as mãos com a contravenção vigente.
Destaque na lista dos países mais corruptos, o Brasil é aquele que consome R$ 200 bilhões/ano com a contravenção, R$ 60 bilhões a mais que os recursos orçamentários de Educação e Saúde, segundo dados da Organização das Nações Unidas. Na mesma lógica, e por causa desse paradigma, de acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que mantém um ranking da educação em 36 países, o Brasil atualmente amarga a penúltima posição, à frente somente do México. Como critérios avaliados pela organização está o desempenho dos alunos no PISA, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, a média de anos que os alunos passam na escola e a porcentagem da população que está cursando ensino superior. Além das horas, a qualidade dessas horas, é extremamente elucidativa no desempenho nacional.
No contraponto desse vexame, nos destaques do ranking, aparecem Finlândia, Japão, Suécia, Cingapura, Canadá, Hong Kong, Holanda e Suíça, onde florescem baixos níveis de exclusão social, taxas discretas de corrupção e violência, além das melhores universidades do planeta. Entre eles, países que se revezam no topo do desenvolvimento científico e tecnológico global, florescem as melhores academias do mundo. Entre os 8 países melhores no padrão civilizatório, vicejam 25% das instituições acadêmicas melhor avaliadas. Como o Brasil vai alcançar esse nível de diferenciação como nação civilizada com um padrão educacional tão empobrecido? Esses países não dispõem dos recursos naturais aqui tão abundantes entretanto têm, entre si, uma característica comum: eles não esperam pra conferir o risco que podem correr. Antecipam-se nas equações. São capazes de planejar, olhar além do horizonte, apostar as fichas na qualificação ética, educacional e tecnológica de suas gerações. Por isso estão e continuarão onde estão, apontando rumos, lições e certezas de que não dá para dispensar uma crise e que as soluções e definição dos caminhos, como borboletas libertárias, estão em nossas mãos.
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