Na carona da Conferência do Clima, encerrada em Paris com acordos que representam avanços possíveis e objetivos para conter as ameaças do clima, a nova onda do ambientalismo corporativo, chama-se Paisagens Florestais Intactas (IFLs, do inglês Intact Forest Landscapes). Capitaneada por Greenpeace, Global Forest Watch, World Resources Institute, Transparent World, Universidade de Maryland e WWF Russia (entidades do Bem, como se diz por aí, do Bem de quem?) e focadas no bioma amazônico – o Brasil é tratado com prioridade por ter 60% das IFLs do planeta – a nova onda repagina a ideologia da intocabilidade. São complexos e universalizastes os algoritmos de demonstração. Aqui, pra variar, a Estatística vira instrumento eficaz para ocultar propósitos. Como levar a sério análises “científicas” que dicotomizam a questão ambiental da condição humana? Tecnicamente IFLs são os “últimos remanescentes das grandes zonas florestais não perturbadas por fragmentação, estradas ou outras infraestruturas humanas significativas”, diz a interpretação do FSC, Forest Stewardship Council, em seu portal na web. Presente na Amazônia há quase três décadas, o FSC é uma instituição que confere certificação de produtos oriundos de manejos florestais. Se a nova onda do preservacionismo pegar, como entendem as corporações estrangeiras que a financiam, seus negócios pelo mundo afora serão atingidos. O engenheiro florestal Jeanicolau Lacerda, defensor obstinado do uso florestal inteligente, desmonta o imperativo da modelagem estatística aplicado a áreas de manejo, como fator de proteção climática. Como imobilizar essas áreas, onde as florestas são decididamente protegidas e cumprem sua parte na estabilidade do clima?
O obscurantismo de manter a floresta intocada, em pé, com seus habitantes ajoelhados pelo imobilismo de bolsas verdes, tem sido causa do desmatamento ilegal, e da restrição funcional de projetos e programas de manejo florestal. O programa de plantio de castanheira e pupunha, com mais de 2,2 milhões de indivíduos, conduzido há mais de três décadas pelo visionário Sérgio Vergueiro na Amazônia, é um paradigma, entre outros, de intervenção climática exemplar. Plantar com adição de tecnologias inovadoras não apenas recupera áreas degradadas, como demonstra o acerto de enriquecer áreas com potencialidades socioeconômicas de manejo ambiental. Reflorestar com espécies de alto valor comercial é proteger a floresta, resguardar a eventual fragilidade de alguns biomas e investir nas potencialidades efetivas dos demais.
Para Niro Higuchi e Charles Clement, cientistas com mais de três décadas de observação ação na silvicultura tropical, os novos negócios da Amazônia, para manter seus padrões de controle de estoques florestais, dependem de investimentos para a atividade industrial na floresta. Aqui não cabem investimentos no agronegócio, que poderão captar financiamento na rede bancária privada e manter os aportes adequados na pesca e aquicultura, para oferecer proteína para a maioria da população amazônida. Os investimentos devem concentrar-se, dizem eles, na atualização tecnológica de empresas existentes, na viabilização de novos empreendimentos com tecnologias avançadas (especialmente a abertura de filiais de empresas do setor florestal com tecnologias já consagradas, e de fábricas atualmente localizadas fora da Amazônia), na criação de arranjos produtivos locais (como polos moveleiros que a Suframa pode retomar para o adensamento da cadeia produtiva florestal em geral. Assim, em lugar da intocabilidade, a equação meio ambiente e desenvolvimento se harmonizará na Hileia a serviço da ecologia, na promoção da economia e da prosperidade social.
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