Nascido em São Paulo, onde a escassez preocupante da água está levando população e governo ao desespero, num desastre hídrico sem precedentes e atribuído por cientistas aloprados à derrubada de árvores na Amazônia, o pioneiro Sérgio Vergueiro, 75 anos, não titubeia ao poder ironizar a acusação, com o plantio de 1 milhão e trezentas mil castanheiras, em 3,7 mil hectares. Ele usou menos de 20% da reserva disponível, onde mantem um viveiro para 300 mil mudas e um portfolio de distribuição registrada de aproximadamente 600 mil indivíduos para quem topasse sua maratona florestal, na Fazenda Agropecuária Aruanã, cercanias de Itacoatiara, a 200 quilômetros de Manaus. Com suporte tecnológico do CPATU, Centro de Pesquisas do Trópico Úmido, da Embrapa, no Pará, Vergueiro, que se formou engenheiro agrônomo pela respeitável Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, em Piracicaba, ESALQ-USP, atendeu à recomendação do cientista Vivaldo Campbell, que dirigia o IBDF, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, nos anos 80, e ao estímulo do pioneiro na exploração e beneficiamento de castanha, a Bertholletia excelsa, Moysés Israel, para trocar a iniciativa pecuária que o trouxe para a Amazônia, nos anos 60, pelo desafio de cultivo extensivo de castanha-do-pará, do Brasil, da Amazônia, não importa, uma das espécies mais representativas e benéficas da flora tropical. Já são transcorridos 33 anos, e hoje a Embrapa está finalizando os estudos técnicos para contabilizar a massa monumental de fixação de carbono que as castanheiras representam. Aguardem!
É leviano dizer que a Amazônia é responsável pela escassez de água no Sudeste, sem demonstrar ou publicar estudos em revistas que dão rigor e responsabilidade cientifica para afirmações dessa envergadura. Num relatório apressado, “O Futuro Climático da Amazônia”, encomendado pela Articulação Regional Amazônia, rede composta por várias associações sul-americanas, Antônio Nobre, do INPE, tenta explicar as possíveis causas e efeitos da bagunça climática – um fenômeno global e não regional – e cede a tentação de responsabilizar a Amazônia, o mesmo que os cientistas do mundo desenvolvido fizeram na Rio-92, onde a Conferência da ONU, sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tentou atribuir a supostas queimadas da Amazônia a cota maior do aquecimento global, para encobrir a responsabilidade das emissões dos países centrais. Não colou.
Vergueiro escolheu seguir no contraponto dessa generalização de saberes, cercando-se de cientistas de primeira grandeza, e de experiências consolidadas por estudos aprofundados para seu projeto. Seus produtos, hoje, de tamanha excelência, não conseguem alcançar o mercado externo pela indisponibilidade de oferta, toda consumida na avidez pela qualidade do mercado interno. A cadeia produtiva, do banco de germoplasma à embalagem padronizada por legislação e certificação internacional, tem a genética da determinação, da pesquisa rigorosa e da mobilização do conhecimento tradicional. A cultura local conserva a liturgia centenária do descasque associada aos padrões tecnológicos mais avançados de secagem, desumidificação e segurança sanitária. O resultado mantem a delícia e o excelso glamour da Bertholletia amazônica. Seus gestores são curumins e cunhatãs formados em Agroecologia, pelas universidades nativas, UEA ou UFAM, que interagem com o que há de mais avançado na inovação para produzir alimentos e saídas coerentes com as novas (?) vocações de negócios da Amazônia, economicamente sustentáveis, socialmente adequadas e ambientalmente inteligentes. Uma contribuição robusta de Vergueiro para a falta de bom senso de seus conterrâneos no zelo pela Mata Atlântica e por outras causas da escassez de água e distúrbios do clima. Voltaremos.
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