Há uma pauta assustadora escondida no imensurável banco genético e antropológico amazônico à espreita do novo diretor do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Luiz Renato de França, dando-lhe boas vindas. Um quinto dos princípios ativos do planeta habita por aqui. Menos de 10%, porém, foi levado aos laboratórios. Surto de nacionalismo de Getúlio Vargas, o Inpa ilustra o enfrentamento da Unesco – sob a coordenação de Washington – para ocupar a Amazônia. Reconstrução dos escombros da II Guerra, utilização de seus espaços para refugiados sem pátria e insumos para mitigar a insegurança alimentar de então eram as desculpas. Nasceu sem um microscópio para a Botânica e restou aos 3 cientistas nomeados pelo recém-criado CNPq, o Conselho Nacional de Pesquisa, se aliançarem com os locais para começar 62 anos de inventário monumental. Muitos cientistas estrangeiros decidiram ficar para integrar o desafio de materializar as utopias, a antecipação das verdades prematuras, como dizia Lamartine. Essa simbiose institucional e fecunda dos primórdios – que juntou médicos, historiadores, sociólogos, sanitaristas locais, entre outras áreas integradas pela afetividade interdisciplinar que por aqui ainda viceja – não pode sucumbir à patologia funcional e mecanicista, que tornou inócuo o e estéril o serviço público.
O sistema de gestão do Inpa não pode obrigar o gestor a dedicar o melhor de seu talento para a rotina burocrática para a qual ele não foi qualificado. A ele compete articular projetos, programas e planos em andamento. Num deles, 13 cadeias produtivas de guaraná, açaí, fibras vegetais, fitoterápicos, entre outras, ora suportadas pelo crédito discreto da Agência Estadual de Fomento, em parceria com a Seplan, aguardam recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, para avançar e fazer evoluir novos arranjos de negócios da relação entre cadeia produtiva e cadeia do conhecimento. E o Inpa entrou nessa ciranda de oportunidades. Chance de transformar seus inventários na dinâmica espetacular e diversificada das espécies amazônicas em polos de bioindústria. A ordem é agregar valor pela inovação e inserção no mercado nacional e global. Sob nova direção, no contexto da espermatogênese, cabe indagar: por que gorou o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), em desafios dessa monta, de desenvolvimento regional, como foi desenhado no Programa Brasileiro de Ecologia Molecular da Amazônia, que o veterinário Luiz Renato bem conhece.
A rigor, ninguém mais quer saber dessa estória sem agá. O CBA, pago pelas empresas do Distrito através das taxas da Suframa, hoje sequestradas pela União, perdeu o bonde e a credibilidade. Especialmente investidores empenhados em fazer da bioprospecção, uma nova onda de negócios que descrevem a cobiça antiga do olhar estrangeiro, desde quando Marques de Pombal – com o Tratado de Madri, em 1750 – tornou brasileira esta parcela da Amazônia Continental, delegando-nos a tarefa de combater a estreiteza da percepção estratégica federal para assumir e integrar esse patrimônio. O que se espera desta nova gestão é ajudar a integrar a indústria da ZFM com a biodiversidade que a cerca, promovendo a utilização dos inventários em soluções que essa indústria reivindica, nas fibras vegetais, nos insumos regionais para consorciar tecnologia e biologia, na fisiologia da reprodução de novos produtos que articulem a genética da propagação e novos cultivares da bioindústria, para devolver benefícios para quem emprestou o saber. É hora de vislumbrar caminhos de educação generalizada em todos os níveis, no conceito de Rubem Alves: ajudar o outro a ver o mundo, sua imensidão e fascínio. “Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. E só veem a beleza do mundo aqueles que têm a beleza dentro de si”.
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