Há 25 anos o mundo celebrou a queda de um muro, quando povo alemão vivenciou o sentido radical de um abraço de Berlim com sua outra porção. Ensaiou-se,ali, depositar no lixo da História os resíduos de ideologias e tiranias que desumanizam relações e retiram das pessoas aquilo que as torna mais humanas, demasiadamente humanas na leitura de Nietzsche: a liberdade. Esta é a premissa da solidariedade na conjugação do existir na primeira do plural. Meses antes, o jovem chinês, em Pequim, enfrentava os tanques do poderoso exército dito comunista em plena Praça da Paz Celestial, solidário com 100 mil estudantes e trabalhadores que gritavam por liberdade. “Existirmos, a que será que se destina?”, indagava Torquato Neto na poesia de Caetano. É inútil, pois, brecar a vocação da condição humana para o Absoluto, diriam os pré-socráticos, ao condenar a tentação autoritária das ideologias em falsificar o real, fragmentar consciências e transformar gente em manada.
Há 25 anos, também, a comunicação instantânea e interpessoal celebrou a implantação da internet, implodindo dogmas e instalando a expansão irreversível das consciências ao misturar real e virtual com a mesma nitidez e configuração. Com a internet, a condição humana passa a interrogar o conceito de permanência e a retirar-lhe o dogmatismo estóico de verdade, para devolver ao conceito de movimento autoridade maior na revelação do ser. Há 25 séculos, Demócrito já havia postulado a questão dando à dialética do ser e do não-ser o mesmo estatuto para revelar a contradição do existir. A unidade entre o ego e o alter-ego.
E qual a relação possível entre toda essa Metafísica da liberdade, da necessidade e do movimento da revelação da verdade, com o muro de uma nova ideologia que se formou em torno da Amazônia, que se apressa em responsabilizar a floresta por problemas climáticos e não por soluções de gargalos da sustentabilidade atrelada ao desenvolvimento e prosperidade social no país? Bastou o pesquisador Antônio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que analisou mais de 200 artigos científicos sobre a Amazônia – supor sua relação com o clima para inferir o vínculo entre desmatamento e escassez de água no Sudeste – para o cientista aparecer na TV e impor à opinião pública a mitologia de que não se pode mais tocar na floresta.
Fica clara, mais uma vez, a absoluta incapacidade do país de entender, para poder gerir e integrar, a floresta amazônica. Entender a dinâmica geográfica, geopolítica e estratégica do país em sua totalidade. O pesquisador especulou diversas possibilidades de novas medidas, sobre equívocos e iniciativas a serem tomadas e a economia predatória que descreve a ocupação desenhada pelo modelo de progresso adotado por esta civilização. Colocar a floresta na berlinda, no muro da separação da brasilidade é reproduzir o autoritarismo de uma ideologia nefasta e estática, que a torna a um tempo exótica e perversa aprisionando, pelo autoritarismo do desconhecimento, a preciosidade em movimento de sua contribuição para um novo tempo que inaugura um abraço do Brasil com sua mais generosa e promissora tradução, a Amazônia. Antes que seja tarde…
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