O que acontecerá em 2014, além da folia do Carnaval, da imprevisibilidade do futebol e da barganha eleitoral que definirá os rumos deste país? A resposta está contida na pergunta e ela ironiza o debate da procura por novas saídas ou matrizes econômicas do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM), cuja única garantia é que permanecerá sob bombardeio. Prorrogar seus benefícios exigirá muitas reflexões sobre os desafios que lhe são inerentes. No ano velho, por vários caminhos, através de debates, envolvendo todos os setores acadêmicos, empresariais e órgãos públicos, a ZFM ensaiou a definição de um novo plano, alternativo, adicional e complementar, para a revisão de sua economia. A “base ecológica” se consubstanciou num mote que sugere aproveitar as riquezas da biodiversidade, da aquicultura, da mineração sustentável, entre outras obviedades, para diversificar e interiorizar negócios e oportunidades. Essa prosa não terá agenda nem merecerá muita trela antes de 2015. Isso, porém não impede – muito pelo contrário – a aproximação entre institutos de pesquisa e universidades, sob o bordão que reclama a aplicação, por exemplo, dos recursos do Fundo Amazônia em projetos chancelados pelos atores locais. Dá razões, igualmente, para amaldiçoar a burocracia federal, distante e indiferente, que trava recursos e ações sintonizados com a demanda do beiradão. Um poder difuso, confuso e insolente que não entende o sentido em manter a floresta em pé necessariamente vinculada ao assegurar a dignidade do IDH das pessoas. Nesse contexto, cabe ainda pautar as verbas de Pesquisa e Desenvolvimento, e outras taxas recolhidas no âmbito da Suframa, incluindo o Fundo de Turismo, que precisam ser alvo de estudos e debates na perspectiva do ano que vem depois da Avenida, da Bola e do Voto. Cabe, enfim, entender, apoiar e viabilizar as Cadeias Produtivas da Afeam, a Agência que conseguiu vislumbrar a urgente interatividade entre extrativismo do látex, das fibras vegetais, do açaí e do buriti e seu contraponto em biotecnologia, um caminho promissor e irreversível.
Nesse ensaio da expectativa, o tema da hora e de todas as horas é a Educação, onde o Brasil está retrocedendo a patamares de constrangimento. Ali, nos últimos lugares da corrida global da competitividade, na Ciência, na Economia, estamos na rabiola de tudo que daí decorre. Avançar na qualificação dos recursos humanos se tornou condição de sobrevivência. Desassossega saber, porém, que há recursos de monta, mais do que os países centrais utilizam, para o setor. Um nível elevado de corrupção se atrela à escassez gerencial e à desarticulação entre os atores diretamente envolvidos. A academia, para ilustrar a assertiva, não conversa amiúde com os professores do ensino fundamental e médio, onde se revela e agrava o cenário educacional. Sem dúvida este é o maior de todos os gargalos que embaraçam o modelo ZFM. É alvissareira e altruísta a iniciativa do Pacto pela Educação, surgido no âmbito das entidades que gerenciam as empresas da ZFM, as que padecem da escassez de recursos humanos na rotina do setor produtivo. O Sistema S, Fieam à frente, acaba de instalar uma estrutura educacional arrojada em Parintins, articulando Senai, Sesi e parceiros, neste monumental desafio que urge enfrentar. São alvissareiros, ainda, os indicadores de interatividade entre o Polo Industrial e a UEA, após 13 anos de fundação desta Instituição, cujos alunos foram em 2013 para a rua, antes do movimento nacional, a fim de exigir professores na área de Tecnologia e Inovação (SIC!).
Em 2015, não teremos mais desculpas para seguir esperando a definição do modelo de gestão do CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia). Tomara que a Suframa abdique da insensatez de conduzir a Instituição – não há expertise nem pessoal qualificado para tal na autarquia – e a entregue para quem sabe o que com ela fazer. Cabe, sim, à Superintendência levar adiante a revisão das Verbas de P&D. São 1,3 bilhão por ano desembolsado pelas empresas de Informática, uma verba que tende a aumentar e que precisa ser revista em seus benefícios. “Qualquer país do mundo faria uma revolução tecnológica com este recurso”. As entidades da indústria formularam uma proposta que precis a ser tornada pública. O CAPDA, o órgão colegiado a quem compete gerenciar a dinheirama, depois da insensatez de remeter ao agronegócio algumas dezenas de milhões destinados a projetos de Biotecnolgia, em sua última reunião do ano, pôs a mão na cabeça para não perder o juízo e deliberou com unanimidade pela adoção do Documento do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, uma entidade ligada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, denominado “Diretrizes Estratégicas para o Fundo Setorial Amazônia – CT-Amazônia – proposta para discussão e deliberação”. Este foi um trabalho coordenado pela geógrafa Bertha Becker, depois de três décadas de pesquisa e intervenção na região. Um trecho aqui transcrito sugere o tema e o problema a ser, então, pauta de uma grande prosa que não dá mais para adiar: “No caso da Amazônia, um projeto de desenvolvimento sustentável exige a superação do falso dilema desenvolvimento X conservação. Ao lado das áreas protegidas, é urgente conceber e implementar um novo modelo de desenvolvimento capaz de utilizar – sem destruição – o seu capital natural para gerar e distribuir riqueza para as populações regionais, a região e o País.” Feliz 2015!
Comentários