“Pseudoperícia”: entenda acusação de delegado do Amazonas contra Ricardo Salles

O delegado e ex-superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Alexandre Saraiva, detalhou à Câmara dos Deputados, na última segunda-feira (26), a notícia-crime que apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente.

Salles é acusado por Saraiva de organização criminosa, advocacia administrativa e obstrução de fiscalização. O delegado da PF foi substituído no cargo pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) há duas semanas, um dia após a denúncia.

Pseudoperícia

Em audiência virtual conjunta das Comissões de Legislação Participativa e de Direitos Humanos, Saraiva relatou que os supostos crimes de Salles teriam ocorrido no contexto da operação Handroanthus, da PF, em dezembro do ano passado.

Na ocasião, foram apreendidos 214 mil metros cúbicos de madeira ilegal, na divisa entre Amazonas e Pará, avaliados em R$ 130 milhões. O volume apreendido foi o maior já registrado pela corporação.

A operação concluiu que houve desmatamento ilegal, grilagem de terra, fraude em escrituras e exploração madeireira em áreas de preservação permanente.

Na interpretação de Saraiva, Salles tentou, de diversas formas, boicotar a operação para favorecer “criminosos ambientais”.

“O senhor ministro deu várias entrevistas criticando a operação, mas não ficou só no discurso. Ele foi até a área e fez uma pseudoperícia de 40 mil toras. Ele olhou duas delas e disse que, em princípio, estava tudo certo e que as pessoas apresentaram escrituras”, questionou.

Saraiva ressaltou a contradição de que ninguém reivindicou a posse de 70% da madeira apreendida. 

“Se ninguém reivindicou, como o ministro pode dizer que está tudo certo e a investigação da Polícia Federal está errada?”, acrescentou o delegado na audiência com parlamentares.

Em fevereiro, os policiais federais que participaram da megaoperação foram punidos com multas de R$ 200 mil por um suposto conflito de competência na investigação.

Inversão

Saraiva lembrou ainda que a PF apresentou a Salles todos os laudos periciais comprovando as ilegalidades e que a principal empresa em atividade na região já recebeu mais de 20 multas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“O ministro fez uma inversão: tornou legítima a ação dos criminosos, e não a dos agentes públicos”, disse o ex-superintendente

A ideia de propor a notícia-crime veio após Salles apresentar o prazo de uma semana para conclusão das perícias, considerado insuficiente. A PF teve dificuldade ao acessar o processo administrativo do Ibama no Pará sobre o caso, o que Saraiva interpretou como “uma fraude que buscava iludir a autoridade policial”.

Durante a audiência, Saraiva informou que há 40 pontos de extração de madeira na região onde a operação foi feita, e em 30 deles nunca foi apresentada a documentação necessária.

A análise da notícia-crime apresentada ao Supremo está sob responsabilidade da ministra Cármen Lúcia. A distribuição foi feita por sorteio, no último dia 16.

Na última vez que uma acusação contra Salles chegou ao STF, ele acabou absolvido. Em março, Alexandre de Moraes arquivou a notícia-crime que apontava improbidade administrativa do ministro do Meio Ambiente por sua declaração sobre “passar a boiada” na pandemia. Moraes tomou a decisão com base em parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Fonte: Brasil de Fato

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

Artigos Relacionados

Manguezais da Amazônia sofrem com estradas que bloqueiam a água e matam a vegetação

A limitação no acesso à água impede o pleno desenvolvimento dos manguezais da Amazônia, resultando na formação da chamada "floresta anã", composta por árvores de porte muito inferior às que crescem do outro lado da estrada.

Para zerar gases poluentes, petroleiras precisariam reflorestar 5 vezes o tamanho da Amazônia

O dado reforça a urgência de reduzir as emissões de gases poluentes por meio da transição energética, o que inclui a diminuição do uso e exploração de combustíveis fósseis.

Arquitetas do subsolo: ninhos de formigas cultivadoras ajudam a regenerar solos degradados

Os ninhos de formigas da tribo Attini possuem estruturas que desempenham funções ecológicas importantes, como a ventilação do solo, reciclagem de nutrientes e a manutenção da saúde do ecossistema.

Forças Armadas na Amazônia: ciência, soberania e desenvolvimento na era da diplomacia da paz

A presença das Forças Armadas na Amazônia nunca foi apenas uma operação militar. Sempre foi — e cada vez mais precisa ser — um projeto de Estado, de Nação e de futuro. Em tempos de instabilidade geopolítica, mudança climática e pressão internacional sobre os biomas tropicais, o Comando Militar da Amazônia (CMA) reafirma seu papel como guardião não apenas das fronteiras físicas, mas também das fronteiras do conhecimento, da presença institucional e da soberania cidadã.

Lacuna financeira desafia bioeconomia no Brasil, aponta novo programa da Conexsus

Embora cerca de 90% das cooperativas e associações envolvidas nesse modelo adotem práticas de produção sustentável, apenas 10% conseguem acesso a crédito ou financiamento, evidenciando uma lacuna crítica no apoio financeiro à sociobioeconomia brasileira.