A despeito do que crê maior parte da população brasileira, a Amazônia não é um grande espaço vazio de gente e cheio de árvores. O atributo principal de seu povo é a vitalidade, amplamente à vista para quem se embrenhar em seus rios e percorrer suas estradas. Aqui o brasileiro encontrou terra fértil para se desenvolver. Entretanto, nos últimos 30 anos, o destino da Amazônia e seus habitantes tem sido cerceado constantemente por repetidas inovações burocráticas que visam a redução do desmatamento. O intuito é correto; o Brasil já tem a capacidade de reduzir drasticamente o desmatamento e até mesmo reflorestar parte de áreas degradadas. Mas o preço não pode ser remover o futuro econômico de mais de 25 milhões de brasileiros, relegando-os ao rol de bolsa família, aposentadoria rural e seguro defeso. Não, a Amazônia pode e deve ser um espaço onde o Brasil se reinventa no século XXI, onde a dicotomia do ambiental versus o econômico se dissolve em um novo equilíbrio de prosperidade sustentável.
As premissas de um novo modelo devem ser claras. Não existe mais espaço para a pecuária extensiva sem tecnologia. O cenário onde um hectare de preciosa floresta é substituído por produtividade de 0,5 cabeças de gado precisa ser abolido. Também não é razoável o cenário do corte raso para plantio de soja / cana / dendê, exceto onde já seja área degradada ou compensado por replantio.
Ao mesmo tempo que algumas atividades não-sustentáveis não deveriam ocorrer na região, é preciso criar condições para que algumas atividades sustentáveis do ponto de vista ambiental também os sejam do ponto de vista econômico. Por exemplo, o manejo florestal, atividade praticada no mundo todo em pequena e grande escala, na Amazônia não vingou. Temos uma floresta imensa, com enorme densidade florestal, entretanto não somos significativos produtores de madeira no mundo. O estado de Oregon nos EUA produz mais que o Brasil, ao menos legalmente. A pergunta que precisamos fazer é: por que uma atividade como o manejo não prosperou na Amazônia, local óbvio para seu desenvolvimento??
Se o manejo florestal sustentável se viabiliza, em seu vácuo vem a silvicultura. Com clima e chuvas propícios para o desenvolvimento rápido de algumas espécies, a Amazônia poderia ser o palco do maior experimento global de replantio, com enorme impacto sobre emissões de carbono.
E nas áreas já degradadas, o que devemos fazer? Para início, a pecuária com algum investimento e tecnologia pode evoluir para 3 a 4 cabeças de gado por hectare. Aumentos de produtividade como este são o cerne do enriquecimento de uma população. Multiplicar o PIB pecuário atual na Amazônia por 8 sem derrubar mais uma árvore enriqueceria a região de forma tão intensa que mudaria a dinâmica social e econômica como um todo. Alternativamente, utilizar áreas degradadas para piscicultura, atividade de melhor afinidade com a abundância de água na região, tem potencial enriquecedor ainda maior. Um hectare de piscicultura tem o potencial de gerar dez toneladas de peixe, ou renda de cerca de R$50 mil por ano, muito mais do que pecuária pode ousar.
Estes são cenários que não envolveriam desmatamento adicional ao já existente. Áreas onde ainda fosse necessário ou viável desmatamento seriam compensadas por replantio em outros locais, tornando impactos ambientais neutros. Empresários na região certamente aceitariam os custos associados ao replantio em troca da rapidez das instituições públicas no processamento de licenças.
Quais áreas seriam necessárias trabalhar? 1) Simplificação de regras, com grandes ganhos econômicos e ambientais. 2) Investimentos em ciência e tecnologia, para que aprendamos formas mais produtivas, enriquecedoras e inteligentes de utilizar nossos recursos naturais. 3) Infraestrutura para conectar a região e viabilizar economicamente atividades desejadas. 4) Estimular o empreendedorismo e a migração para a região, onde há de se criar um novo Brasil, com bases mais sólidas para a prosperidade.
Na Amazônia o Brasil tem a oportunidade de se reinventar, de largar as amarras burocráticas e deixar de lado modelos econômicos insustentáveis e improdutivos, em busca de uma economia e sociedade do século XXI.
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