Segundo Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do Brasil, saída da Argentina na COP29 não interfere em negociações, mas traz impacto de natureza política e simbólica
Nesta quinta (14), o presidente argentino Javier Milei ordenou a retirada da delegação argentina da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2024 (COP 29), segundo informações de uma fonte oficial à AFP. O presidente sempre deixou clara sua posição contra as medidas de combate às mudanças climáticas desde que assumiu o cargo, há quase um ano.
A delegação argentina na COP29 era reduzida e tinha como principal objetivo a participação em cursos de treinamento técnico, segundo fontes locais. Nesta quinta-feira, os funcionários argentinos já não estavam no Estádio Olímpico de Baku, local onde acontece a conferência, conforme confirmaram as fontes anônimas.
Durante um discurso na Assembleia das Nações Unidas, em setembro, Javier Milei já havia acusado a Organização das Nações Unidas (ONU) de querer “impor uma agenda ideológica” e se distanciou cada vez mais das metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Impacto da Argentina na COP29 para o Brasil
Ao comentar a debandada da Argentina da conferência, a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, destacou que o ato tem um impacto de natureza política e simbólica.
“É um processo que vai na contramão das exigências que o mundo está fazendo. Todas as sociedades estão pagando um preço muito alto da mudança do clima, e cada país que se recusa a fazer o dever de casa está contribuindo para o agravamento dessa situação que prejudica a vida das pessoas, os sistemas agrícolas, os sistemas de produção industrial em todos os níveis”, pontuou Silva na manhã desta quinta-feira durante a conferência.
Apesar disso, a ministra acredita que a decisão da Argentina na COP29, país que também integra o Mercosul, não interferirá nas negociações climáticas da Cúpula de Chefes de Estado do G20, que será realizada nos próximos dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro. “O G20 já conseguiu os avanços que nós esperávamos. Fomos capazes de discutir, desde pagamento por serviços ecossistêmicos, a taxação de super-ricos. Nós fomos capazes de fazer uma junção entre a agenda do clima e a agenda de finanças, em uma reunião histórica em Washington”, destacou, referindo-se à Força-Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima, realizada em outubro.
De acordo com o vice-presidente brasileiro Geraldo Alckmin, que também discursou e participa da COP29 em Baku, a decisão de Milei é pessoal e pode impactar economicamente a própria Argentina. “Está nítido a questão das mudanças climáticas e a sua repercussão, inclusive na economia. Acabamos de ouvir agora que ela pode derrubar o PIB. Mas isso não vai mudar as relações de Estado, que não são pessoais”, declara.