Estudo alerta que a destruição pode levar a Amazônia a um ponto de não retorno, com impactos irreversíveis no clima e biodiversidade
A mineração, tanto legal quanto ilegal, e a expansão da agricultura e da pecuária estão acelerando o desmatamento na Amazônia, conforme aponta o mais recente relatório da MapBiomas Amazônia. Divulgado nesta quinta-feira (26), o estudo analisa o uso do solo entre 1985 e 2023 nos nove países que compõem a região amazônica, e os números são alarmantes.
O crescimento da mineração na Amazônia impressiona: 1.063% nas últimas quase quatro décadas, transformando áreas florestais em vastas crateras e poluindo rios. A agricultura também não fica atrás, com um aumento de 598%, enquanto as pastagens se expandiram 298%. No total, mais de 92,4 milhões de hectares de vegetação natural foram destruídos para dar lugar a atividades econômicas.
Essas atividades econômicas têm impacto direto sobre a cobertura florestal. Segundo o relatório, três quartos (71%) das perdas de floresta tropical ocorreram na Amazônia, somando uma área que equivale ao território da Colômbia. Esse cenário gera preocupações crescentes sobre o futuro da floresta, que pode estar se aproximando de um ponto de não retorno. Se esse limiar for atingido, a Amazônia entraria em um processo irreversível de savanização, transformando-se de floresta tropical para um ecossistema mais seco, incapaz de sustentar a biodiversidade que hoje abriga.
Perigos do desmatamento
A análise do MapBiomas destacou ainda a urgência de preservar as áreas de floresta intactas e de baixa degradação, antes que as mudanças climáticas e a atividade humana destruam ainda mais a Amazônia. O maior risco identificado pelos especialistas é a continuidade dessa destruição, que poderá agravar o aquecimento global ao liberar enormes quantidades de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera. Além disso, o desmatamento afeta o equilíbrio climático regional, comprometendo o regime de chuvas e a capacidade da floresta de regular o clima global.
Karen Huertas, especialista do MapBiomas Amazônia, reforça que “os principais desafios são conservar as áreas intactas e de baixa degradação, antes de alcançar o ponto de não retorno, e substituir as atuais atividades por outras que impactem menos a floresta.” Ela também destaca a importância da proteção das áreas naturais e dos territórios indígenas, que atuam como barreiras fundamentais contra o avanço do desmatamento.
Áreas protegidas e territórios indígenas ameaçados
Um dos pontos centrais do relatório é a defesa de políticas que fortaleçam as unidades de conservação e protejam os territórios indígenas. Estes territórios, segundo o estudo, são essenciais para conter a destruição da floresta. As áreas protegidas têm se mostrado eficazes na preservação, mas enfrentam constantes ameaças, tanto de grileiros quanto de políticas públicas insuficientes para garantir sua integridade.
A mineração ilegal é outro fator preocupante, especialmente em áreas de difícil fiscalização. A falta de controle e a exploração desenfreada não só degradam o solo, como também contaminam os rios com mercúrio e outros metais pesados, gerando danos irreversíveis para a fauna aquática e as comunidades ribeirinhas que dependem dessas águas para subsistência.
Além disso, o avanço da agricultura e pecuária tem sido impulsionado por políticas que estimulam a abertura de novas áreas para o agronegócio. Embora o setor seja importante para a economia de diversos países da região, sua expansão desordenada coloca em risco a Amazônia e o equilíbrio ecológico necessário para manter o sistema climático estável.
Diante do estudo pode-se observar que a necessidade de políticas públicas que priorizem a proteção da floresta e incentivem a adoção de práticas econômicas sustentáveis nunca foi tão relevante. É essencial fortalecer as ações de fiscalização contra a mineração ilegal e promover alternativas econômicas que não dependam da destruição da floresta.
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