O avanço de atividade agropecuária no Amazonas coincide com uma perda significativa de área de floresta, sinalizando uma tendência preocupante para a sustentabilidade da região
Entre os anos de 1985 e 2023, o Amazonas viu um aumento expressivo de 659% nas áreas destinadas à agropecuária. Os números alarmantes, divulgados pelo projeto MapBiomas, revelam que a área ocupada pela agropecuária cresceu de 395 mil hectares para 3 milhões de hectares em menos de quatro décadas. Este aumento coincide com a redução de aproximadamente 2,7 milhões de hectares de floresta, que vem sofrendo com desmatamento e queimadas ilegais.
De acordo com o superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo, o impacto das queimadas tem se tornado visível até mesmo nas grandes cidades, como Manaus, onde a fumaça proveniente dessas atividades ilícitas prejudica a qualidade do ar. As queimadas, segundo Araújo, são um método ilegal utilizado por fazendeiros para “limpar” a terra e prepará-la para a criação de gado.
O impacto do pasto na Amazônia
O maior responsável por essa expansão das atividades de agropecuária no Amazonas é o aumento das áreas destinadas à pastagem. Em 1985, o total de terras usadas para esse fim era de 395 mil hectares. No entanto, em 2023, esse número subiu para 2,9 milhões de hectares. A agricultura, por sua vez, apresentou um aumento menor, passando de 376 hectares para 7 mil hectares no mesmo período.
Luis Oliveira, porta-voz de Amazônia do MapBiomas, ressaltou que essa expansão é particularmente forte na região sul do Amazonas, especialmente nos municípios próximos ao Acre e Rondônia, onde a cultura de criação de gado já é predominante. “A pastagem avançou bastante, principalmente na parte sul do estado, na região do município de Apuí”, comentou Oliveira.
No entanto, enquanto as áreas de agropecuária crescem, a floresta amazônica no estado do Amazonas sofre um recuo preocupante. Em 1985, o estado contava com 148 milhões de hectares de floresta. Hoje, restam 145 milhões de hectares, uma perda significativa que coloca em risco a biodiversidade e os serviços ambientais da região. O Amazonas, que já possuía cerca de 97% de cobertura florestal e atualmente conta com 94,79%, segundo o levantamento do MapBiomas.
O avanço do desmatamento e das queimadas
A região sul do Amazonas, que faz divisa com os estados de Rondônia e Acre, se tornou um epicentro de desmatamento e queimadas no Brasil. Municípios como Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã estão entre os 50 que mais desmataram no país entre 2019 e 2023, segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, do MapBiomas.
De acordo com o Painel do Clima do governo do Amazonas, em 2024, o estado registrou 21.289 focos de calor, representando um aumento de quase 60% em relação ao ano anterior. Cerca de 76% desses focos estavam localizados na parte sul do estado, onde a pressão pela expansão da agropecuária é mais intensa.
Outro dado relevante é o aumento no número de cabeças de gado. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que o Amazonas possuía 2,3 milhões de cabeças de gado até 2023, um aumento de 59% nos últimos cinco anos. Grande parte desses animais está concentrada nos municípios do sul, onde o desmatamento e as queimadas também são mais expressivos.
Apesar das críticas, Muni Lourenço, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas (Faea), argumenta que é injusto generalizar o setor como responsável pelo desmatamento e queimadas.
Ele também questiona os dados do MapBiomas e reforça que a Faea confia em dados de fontes oficiais. Além disso, o pesquisador também destacou que o setor está investindo em tecnologias para minimizar o impacto ambiental, como o melhoramento genético do rebanho e a adoção de práticas sustentáveis, como o pastejo rotacionado e a adubação de pastagens.
Segundo ele, eventos como a Expoagro são fundamentais para promover a capacitação de produtores e divulgar boas práticas agrícolas. Lourenço acrescenta que a Faea está empenhada em adotar tecnologias que ajudem a reduzir o impacto das atividade no meio ambiente.
Comentários