“Compromissos de longo prazo e a adoção de práticas efetivas não apenas protegem direitos humanos e compromissos institucionais, mas também mitigam riscos econômicos e reputacionais, promovendo uma gestão verdadeiramente sustentável e responsável nas cadeias de suprimentos.”
Por Régia Moreira Leite
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Coluna Follow-Up
Os debates interdisciplinares e intrassetoriais da Comissão de ESG do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM) sempre consideram o perfil das empresas incentivadas pela SUFRAMA, que dependem de contrapartidas fiscais em seus contratos com o poder público. A transparência e a interatividade são premissas essenciais dessa rotina, especialmente no que diz respeito aos contratos com fornecedores.
Além de parceiros internacionais, as empresas do Polo Industrial de Manaus mobilizam uma diversidade de parcerias nacionais e regionais de fornecedores, incluindo empresas terceirizadas. Este cenário recomenda uma abordagem ainda mais rigorosa para a gestão sustentável da cadeia de suprimentos, especialmente no que tange aos impactos ambientais diretos, como o desmatamento, as queimadas descontroladas da floresta, a disposição irregular de resíduos industriais e práticas de carbonização sem controle.
A circulação instantânea de informação expõe as empresas a riscos agravados não apenas por violações de direitos humanos e trabalho análogo ao escravo, mas também por danos ambientais significativos. Denúncias severas em setores como mineração, alimentação, bebidas, madeira e entretenimento demonstram a necessidade de políticas de controle mais efetivas na cadeia de suprimentos.
Durante os colóquios e debates na entidade, uma recomendação insiste que não é suficiente apenas romper contratos ou declarar conformidade após o surgimento de episódios críticos. É vital que as empresas reconheçam falhas no gerenciamento e adotem medidas proativas e transparentes desde o início de qualquer crise relacionada ao ESG.
Critica-se o foco apenas nos principais fornecedores e a negligência dos níveis mais baixos da cadeia, onde frequentemente se escondem os maiores riscos ambientais. A conformidade formal e a falta de processos de melhoria contínua, monitoramento e auditorias externas são insuficientes para o escrutínio crescente das atividades empresariais.
Inexiste regulação específica para nortear condutas mas todos perderão por esperar para mudar. Nesta semana, a Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA, na sigla em inglês) publicou novas regras para que fundos ESG e sustentáveis sejam objetivamente rotulados para aporte de investimentos. O objetivo das diretrizes é garantir que os investidores estejam protegidos contra “alegações de sustentabilidade infundadas ou exageradas em nomes de fundos”, afirma a ESMA, em comunicado. Esses critérios claros e mensuráveis também serão adotados para reduzir artifícios para a prática de greenwashing.
É necessário, pois, elaborar programas estruturados com metas claras e métricas específicas, além de processos de monitoramento robustos que incluam construção de uma agenda positiva com fornecedores. As práticas de mercado bem-sucedidas envolvem o engajamento ativo de toda a equipe de gestão da cadeia de suprimentos, desde a capacitação até a definição de incentivos, a formulação de estratégias, o uso de tecnologias de rastreamento e a implementação de KPIs.
Os KPIs (Key Performance Indicators) são parâmetros essenciais para acompanhar o cumprimento dos objetivos e a evolução do desempenho de qualquer organização, incluindo a sustentabilidade ambiental. Além disso, é de extrema importância que os gestores de cadeia de suprimentos realizem verificações no campo para assegurar a dignidade e os direitos dos trabalhadores terceirizados, bem como a integridade do meio ambiente. Compromissos de longo prazo e a adoção de práticas efetivas não apenas protegem direitos humanos e compromissos institucionais, mas também mitigam riscos econômicos e reputacionais, promovendo uma gestão verdadeiramente sustentável e responsável na cadeia de suprimentos
Régia é economista, administradora, empresária, coordenadora da Comissão ESG e conselheira do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas
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