Explorando o sucesso de cooperativas e startups na Amazônia, que estão valorizando produtos regionais e promovendo a sustentabilidade econômica e ambiental, ao mesmo tempo em que ganham espaço nos mercados globais.
O potencial da bioeconomia para o desenvolvimento sustentável na Amazônia é considerável – impactando diretamente 750 mil famílias que dependem das atividades extrativistas, com a previsão de movimentar R$ 38,6 bilhões e contribuir para a conservação da floresta e da singular sociobiodiversidade da região até 2050, de acordo com estudos do WRI.
Entretanto, as cadeias produtivas baseadas na conservação florestal apresentam complexidades e diversos desafios que precisam ser superados para que haja um avanço econômico significativo e para que as condições de vida dessas comunidades melhorem substancialmente. Por isso, é crucial identificar e apoiar referências positivas que possam catalisar o desenvolvimento da bioeconomia na área. Veja abaixo três iniciativas que estão se destacando nesse contexto:
Bioeconomia dos super alimentos da floresta
Dentro da cadeia da castanha-do-brasil, um exemplo notável é a Mahta, uma empresa que recebe suporte da aceleradora Amaz (braço do Idesam) e se especializa em nutrição com super alimentos ricos em bioativos da floresta. O produto estrela da foodtech, um pó para shakes, é completamente natural, rico em proteínas e contém baixos níveis de carboidratos.
A Mahta inova ao valorizar um subproduto altamente nutritivo que normalmente é descartado durante o beneficiamento da castanha. “O desafio é encontrar fornecedores capazes de processar esse subproduto na Amazônia, para assim gerar renda localmente. Atualmente, a produção é realizada em São Paulo, e para obter a matéria-prima em uma escala viável, temos estabelecido parcerias de compra com outras empresas”, explica Fabio Muller, head de operações e supply da Mahta.
Em 2023, a empresa adquiriu dez toneladas de castanha de fornecedores do Pará e Mato Grosso, mais que o dobro do volume comprado no ano anterior. Para 2024, o objetivo é introduzir no mercado americano o superalimento produzido a partir do resíduo da castanha.
Foco na qualidade da castanha
Outra iniciativa promissora é a da Cooperativa de Produção do Povo Indígena Paiter Suruí (Coopaiter), que envolve a produção agrícola de 2.400 famílias da Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia, incluindo a produção de castanha-do-brasil.
Após receber suporte do governo estadual na aquisição de equipamentos e estabelecer parcerias para adquirir conhecimento em beneficiamento, a Coopaiter se associou à Conexsus para iniciar a produção, alcançando resultados notáveis: conseguiram vender a castanha a preços cinco vezes superiores aos do mercado.
“Não buscamos competir em preço por volume, mas sim em qualidade, refletindo a dignidade de um povo indígena que utiliza o produto tanto para alimentação quanto para geração de renda”, destaca Elisângela Suruí, gerente de produção da Coopaiter.
Elisângela salienta que para manter a valorização e viabilizar o processo produtivo, a meta da cooperativa é alcançar uma produção de 2 mil Kg por mês a R$ 70 por Kg. Eles já estão progredindo nessa direção. Entre as estratégias adotadas está a criação de embalagens de alto padrão com simbologias indígenas e o estabelecimento de parcerias voltadas ao mercado de consumo consciente.
“A expectativa é sensibilizar o consumidor sobre o impacto de suas escolhas no suporte à conservação da Amazônia. Valorizar a castanha é, por extensão, valorizar a preservação da floresta, já que a atividade dos indígenas na coleta dos frutos é fundamental para o monitoramento do território”, explica ela.
Inovação no mercado de chocolates
Dentro da cadeia do cacau, a Warabu se destaca na produção de chocolates finos, utilizando cacau proveniente da Amazônia. A empresa oferece 12 variedades de chocolates, disponíveis em lojas e marketplaces.
“Apostamos na alta qualidade e na procedência amazônica das matérias-primas, promovendo uma relação justa e direta com pequenos produtores, incluindo capacitação e certificação”, afirma Jorge Neves, fundador da Warabu.
Com investimentos que totalizam quase 4 milhões, a Warabu introduziu novas tecnologias que elevaram a qualidade de seus produtos em 30% a 40%. Atualmente, os planos incluem começar a exportar e, com novos aportes financeiros, verticalizar o processo produtivo para aproveitar os subprodutos do cacau.
“Além de obter os selos vegano e orgânico, essenciais para o reconhecimento internacional, investimos em maquinário italiano de alto padrão tecnológico para a produção de chocolates especiais. Em 2024, planejamos expandir a capacidade de nossos fornecedores, oferecendo garantia de compra e pagando o dobro do preço de mercado”, relata Neves.
Com informações da revista Exame
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