No dia 13 de abril, sábado, a partir das 18:30, o Memorial Samuel Benchimol em parceria com o Museu Judaico de São Paulo, irá receber os autores Márcio Souza e Ilko Minev, e o ex-secretário da cultura do Amazonas, Robério Braga, para uma conversa sobre literatura e imigração dos Judeus na Amazônia. O evento faz parte do programa Jornadas Judaico-Amazônicas: as migrações judaicas no Norte do Brasil, que já passou por São Paulo e Belém, e agora chega a Manaus.
Para conversar a respeito das Jornadas Judaicas na Amazônia, entrevistamos Mariana Lorenzi, curadora do evento, que se iniciou em agosto de 2023, no Museu Judaico paulista.
Por Alfredo Lopes
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Portal BrasilAmazôniaAgora – Qual é o propósito das Jornadas Judaicas na Amazônia e que balanço você faz até aqui dessa iniciativa?
Mariana Lorenzi – As Jornadas Judaico-Amazônicas têm como propósito principal promover a preservação e valorização da cultura judaica na região amazônica, assim como em todo Brasil, visando promover o diálogo intercultural entre a comunidade judaica e as comunidades locais. Essa iniciativa busca também resgatar e documentar a história da presença judaica na Amazônia, que remonta há mais de dois séculos , além de fortalecer os laços entre os descendentes de judeus amazônicos e suas raízes culturais.
Trata-se de uma iniciativa do Museu Judaico de São Paulo, em parceria com agentes locais. Iniciou em agosto de 2023, em São Paulo, com um evento de 4 dias em nosso no Museu que contou com a presença de convidados vindos de diversos recantos do país. Em novembro foi a vez de Belém receber um evento gastronômico, que apresentou ao público a influência judaico-marroquina na culinária regional.
E agora, é a vez de Manaus e, em vez de um, esses dois eventos! Dito isso, consideramos que o projeto tem alcançado sucesso ao trazer à tona a história e a cultura judaica nesta região tão emblemática promovendo maior compreensão e apreciação da diversidade cultural amazônica. Além disso, é sempre construtivo o fortalecimento dos laços comunitários entre os descendentes de judeus amazônicos e para o enriquecimento do cenário cultural e histórico da Amazônia e do Brasil.
BAA – A presença judaica na Amazônia é marcada pelo pioneirismo empreendedor e sustentável e pela capacidade ética e étnica de aglutinação. Qual é a importância dessas habilidades no Brasil do século XXI?
Mariana Lorenzi – A presença judaica na Amazônia é notável por sua abordagem pioneira no empreendedorismo, que se destaca pela busca de soluções sustentáveis em harmonia com o ambiente. Os judeus que se estabeleceram na região frequentemente adotaram práticas comerciais que levavam em consideração o impacto social e ambiental de suas atividades. Essa característica é de grande relevância no Brasil do século XXI, quando enfrentamos desafios significativos em termos socioeconômicos e ambientais.
Além disso, a capacidade ética e étnica de aglutinação dos judeus na Amazônia é uma qualidade valiosa que pode contribuir significativamente para a promoção da diversidade cultural e para o fortalecimento dos laços comunitários. A habilidade de integrar diferentes grupos étnicos e culturais em uma sociedade coesa e harmoniosa é essencial em um mundo cada vez mais globalizado e diversificado. Os valores de tolerância, respeito mútuo e cooperação, muitas vezes cultivados dentro das comunidades judaicas, podem servir como um modelo para a construção de uma sociedade mais inclusiva e solidária.
Portanto, a presença judaica na Amazônia oferece não apenas uma rica história cultural, mas também lições valiosas que podem ser aplicadas em um contexto contemporâneo, contribuindo para um desenvolvimento mais sustentável, ético e integrador no Brasil do século XXI.
BAA –A USP insere Samuel Benchimol na galeria dos grandes pensadores e empreendedores do país. Na sua opinião, a presença e o legado judaico ajudam a definir a identidade amazônica?
Mariana Lorenzi – Sim, com certeza, a presença e o legado judaico definitivamente contribuem para a definição da identidade amazônica. Ao longo da história, os judeus desempenharam papéis significativos na região, influenciando sua cultura, economia e sociedade de várias maneiras.A presença judaica na Amazônia remonta aos meados do século XIX, com a chegada de judeus marroquinos vindo em busca de melhores condições. Ao longo do tempo, esses judeus contribuíram para o desenvolvimento econômico da Amazônia, especialmente no comércio e na indústria.
Suas habilidades comerciais e conexões internacionais ajudaram a impulsionar a economia local. Além disso, os judeus também deixaram sua marca na cultura amazônica, influenciando tradições culinárias, práticas religiosas e expressões artísticas e literárias. Sua presença é evidente em sinagogas, cemitérios judaicos e outros locais de importância histórica na região. O reconhecimento de figuras como Samuel Benchimol pela USP entre os grandes pensadores e empreendedores do país destaca essa contribuição, historicamente aplaudida por Gilberto Freyre. Sua importante pesquisa ajudou a ilustrar a diversidade étnica e cultural da região, permitindo que essa história ficasse conhecida para além da comunidade judaica. É muito importante honrar e difundir o legado de Samuel Benchimol.
Mariana Lorenzi é graduada em Comunicação Social e Mestre em Arts Politics, é coordenador da Curadoria do Museu Judaico de São Paulo
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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