Inseticida biodegradável: o país enfrenta um surto alarmante de dengue neste início de ano, com alguns estados declarando estado de emergência devido ao aumento significativo dos casos. O virologista Maurício Lacerda Nogueira alerta para a possibilidade de 2024 se tornar o ano com o maior número de casos de dengue na história do Brasil, entre suspeitos e confirmados.
Em meio à expectativa pela distribuição da vacina Qdenga pelo Ministério da Saúde, uma inovação brasileira surge como uma luz no fim do túnel. Pesquisadores nacionais desenvolveram um inseticida biodegradável, derivado de uma planta endêmica do Brasil, capaz de eliminar as larvas do mosquito Aedes aegypti sem afetar outras espécies aquáticas. Esta descoberta representa um avanço significativo na luta contra a dengue, oferecendo uma alternativa sustentável e eficaz para o controle do vetor da doença.
O novo inseticida é o resultado de uma colaboração multidisciplinar entre cientistas da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV). O produto destaca-se não apenas pela sua eficácia seletiva contra as larvas do mosquito transmissor da dengue, mas também por sua composição biodegradável, minimizando impactos ambientais negativos associados a inseticidas convencionais.
Enquanto o Brasil aguarda a ampla disponibilidade da vacina Qdenga, este desenvolvimento científico oferece uma ferramenta promissora para combater a proliferação do Aedes aegypti e, consequentemente, reduzir os casos de dengue no país. A introdução desse inseticida biodegradável no mercado pode ser um passo crucial na estratégia de prevenção e controle da doença, alinhando-se com os esforços nacionais para proteger a saúde pública e o meio ambiente
Desenvolvimento de inseticida biodegradável promete revolução no combate à dengue
O produto, inovador em sua composição e método de ação, é feito a partir do óleo essencial da pindaíba (Xylopia ochrantha), uma espécie nativa encontrada na restinga ao longo da costa brasileira.
Segundo o professor Leandro Rocha da Universidade Federal Fluminense (UFF), o processo de desenvolvimento começou com a identificação das propriedades inseticidas no óleo essencial da planta. Para potencializar a eficácia e a duração da ação larvicida, os pesquisadores utilizaram a técnica de nanoemulsificação.
Essa abordagem inovadora cria gotículas do óleo essencial em escala nanométrica, permitindo uma liberação controlada dos compostos inseticidas. Além disso, a metodologia emprega baixa energia e evita o uso de solventes orgânicos, garantindo a biodegradabilidade do produto.
Um dos aspectos mais notáveis do inseticida é sua capacidade de extrair o óleo essencial sem causar danos à planta, destacando seu potencial sustentável. Eugênio Oliveira, professor do Departamento de Entomologia e um dos autores do estudo, enfatiza a importância da seletividade do inseticida.
“Para serem ecologicamente corretos e seguros para a saúde humana, os inseticidas precisam ter um alvo específico, eliminando apenas o mosquito transmissor da dengue em nosso caso”, explica Oliveira. Esta propriedade seletiva minimiza os impactos negativos em outras espécies aquáticas, diferenciando-o significativamente dos larvicidas sintéticos.
Os testes realizados demonstraram a eficácia e a seletividade do produto. Quando aplicado em ambientes aquáticos, como caixas d’água, na concentração adequada, o inseticida não afeta peixes ou outros insetos benéficos, como a barata d’água (Belostoma anurum), que é um predador natural de larvas de outros insetos. “Esta seletividade é uma grande vantagem sobre muitos dos larvicidas sintéticos disponíveis no mercado”, afirma Milton Campaz, pesquisador orientado pelo professor Eugênio.
Este desenvolvimento representa um marco importante na busca por soluções ambientalmente amigáveis e eficazes no combate à dengue, oferecendo esperança para a redução dos casos da doença no Brasil e em outras regiões afetadas.
*Com informações CICLO VIVO
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