Cientistas alertam para a preocupante diminuição global de insetos polinizadores, um fenômeno que está forçando algumas plantas a adotarem mecanismos de autopolinização. Entenda qual é o possível impacto negativo que isso pode trazer a biodiversidade, agricultura e ao planeta em geral.
Em um cenário onde os insetos polinizadores estão se tornando mais escassos, as plantas que florescem em áreas de cultivo agrícola enfrentam desafios na sua reprodução. Cientistas do Centro Nacional Francês de Investigação Científica (CNRS) e da Universidade de Montpellier indicam, através de um novo estudo, que tais espécies estão se adaptando para realizar a autopolinização.
A pesquisa, centrada nos amores-perfeitos silvestres nos arredores de Paris, revela uma adaptação notável da natureza, mas também acende um sinal de alerta para os cientistas.
“O nosso estudo mostra que os amores-perfeitos estão evoluindo para ‘desistir’ dos seus polinizadores”, afirma Pierre-Olivier Cheptou, do CNRS. ““Estão evoluindo para a autopolinização, onde cada planta se reproduz consigo mesma, o que funciona a curto prazo, mas pode muito bem limitar a sua capacidade de adaptação a futuras mudanças ambientais””, explica ele em entrevista ao The Guardian.
Alterações observadas nas espécies
Foi constatado pelos pesquisadores que as espécies estudadas apresentam uma redução de 10% em tamanho, produzem 20% menos néctar e recebem menos visitas de polinizadores. O estudo francês aponta para um ciclo vicioso onde a diminuição dos polinizadores leva à redução do néctar produzido pelas flores, o que pode agravar ainda mais o declínio desses insetos.
“Esta é uma descoberta particularmente emocionante, pois mostra a evolução acontecendo em tempo real”, diz Dr. Philip Donkersley, da Universidade de Lancaster, ao The Guardian. Donkersley ressalta o surpreendente da mudança adaptativa das plantas, mencionando que “Esta pesquisa mostra uma planta desfazendo milhares de anos de evolução em resposta a um fenômeno que existe há apenas 50 anos”.
O estudo enfatiza a urgência de implementar medidas para interromper este fenômeno o mais rápido possível, visando preservar as interações milenares entre plantas e polinizadores.
Preocupação global com o declínio dos insetos
O declínio global dos insetos é um tema central em várias pesquisas atuais. No Brasil, por exemplo, estudos indicam um declínio significativo de polinizadores essenciais para a agricultura. Pesquisas na Alemanha mostram que mais de 75% da biomassa de insetos voadores desapareceu de áreas protegidas nas últimas três décadas.
Um alerta preocupante foi emitido pelo Atlas dos Insetos, publicado em 2021 pela Fundação Heinrich Böll, que prevê o desaparecimento de 40% das espécies de insetos nas próximas décadas. Esta redução ameaça a polinização de plantas, o controle biológico de pragas, a ciclagem de nutrientes e a segurança alimentar humana.
O artigo com os resultados do estudo francês foi publicado na revista científica New Phytologist.
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