Discurso de Ilana e Denis Minev em evento na Academia Amazonense de Letras (em conjunto com a Universidade Federal do Amazonas) em comemoração ao centenário do nascimento de Samuel Benchimol
Uma das paixões do meu avô era dar aula. Sempre às 7h da manhã aula de Introdução à Amazônia na sexta feira na Jaqueira. Gostaríamos de aproveitar e agradecer a UFAM a homenagem ao nombrar a Jaqueira com seu nome. Estou aqui com o Manual da aula, pouco mais de 1 mil páginas, iria ler o primeiro capítulo, mas vou poupá-los dado o adiantado da hora.
Reza um manual de empresas familiares: há vivos que estão mortos e há mortos que estão vivos. No centenário de seu nascimento, Samuel Benchimol permanece vivo. Através dos princípios transmitidos às empresas, instituições que ele criou, liderou ou influenciou, e da família.
Um dos seus princípios importantes é o amor pelo trabalho. Sempre brincamos que o dia dele parecia ter mais de 24 horas. Ele passou a vida de trabalho construindo. Sejam empresas (Bemol, Fogás), conhecimento (Amazônico), instituições (UFAM, Comitê Israelita) ou cidadãos (seus inúmeros alunos, alguns Cobras ou Buiuçus). Uma das grandes evidências dessas construções está aqui, na cadeira 11 da Academia Amazonense de Letras que ele ocupou nesta casa.
No aniversário da Ilana, ela ganhou uma carteira de trabalho. As melhores lembranças que temos é de aprender contabilidade – ele ensinava matemática com os balancetes das empresas. À frente do grande mapa em seu escritório, ele plantou em nós a semente da paixão pelo estudo e pela Amazônia. Éramos sabatinados sobre os rios das margens esquerda e direita do Amazonas, na ordem correta. Lá, ele nos ensinou sobre a Transamazônica, a copaíba e o pau-rosa, a Zona Franca e os seus sonhos para o futuro.
Além dos princípios, o amor pela Amazônia. Toda a sua pesquisa era ligada à região. Escreveu o Eretz Amazônia, mostrando a gratidão à Amazônia, região que acolheu nossa família refugiada do Marrocos no século XIX. Pregou sempre a necessidade de olhar o desenvolvimento da Amazônia pelos quatro paradigmas: economicamente viável, socialmente justo, politicamente equilibrado e ambientalmente adequado.
Ele dizia também: O futuro não acontece por acaso. O seu fabrico é produto de ação planejada, da inovação, da iniciativa privada, do desejo político e da sociedade. 21 anos após sua partida, continuamos comprometidos com o fabrico do futuro na Amazônia.
Ele sempre dedicava seus livros aos netos que iriam “viver e trabalhar na Amazônia integrada e desenvolvida do século XXI.” Não está claro se era uma profecia ou um mandamento. Acertou que estaríamos aqui, errou no “desenvolvida e integrada”. Essa profecia andou mais uma geração.
Samuel, filho da Ilana, hoje na graduação nos EUA, estuda da linguística indígena amazônica aos cogumelos fluorescentes da região; ficou entre os 10 finalistas do Prêmio Jabuti por desenvolver um teclado com caracteres indígenas para que possam se comunicar no whatsapp nas suas línguas nativas. E ele só tem 19 anos. Caramba, como Samuel estaria orgulhoso. Em 1942, com os mesmos 19 anos, o vô iniciou a pesquisa que culminou com a conquista do prêmio José Boiteux no X congresso de Geografia com o lançamento da obra “O Cearense na Amazônia: Inquérito Antropogeográfico sobre um tipo de imigrante”.
Quando a Bemol pensa em expandir, a atração pelo interior é enorme, em busca de atender nossos irmãos caboclos menos favorecidos. Cada barco que sai do porto de Manaus com nossas mercadorias em direção às nossas mais isoladas comunidades vai com a benção dele. Quando implantamos redes de fibra óptica no interior (já são 6 municípios), não há como negar sua influência e presença quase física.
Investimos recentemente em jovens desenvolvendo um barco voador, Aeroriver. Por que? Imagine o que ele acharia de tentar desenvolver um meio de transporte que fosse de Manaus a Fortaleza do Abunã em 10 horas pelo preço de uma passagem de barco? Esperamos que ele acharia ousadia. No mínimo maluquice profundamente amazônica e bem-intencionada.
Por último, nosso engajamento em organizações do 3o setor que buscam conciliar desenvolvimento com conservação advém de uma prece dele. “Que Tupã não permita que eu viva e testemunhe o ecocídio da selva, para que de minha boca não saia a oração dos enlutados no sepulcro da biota e do bioma amazônicos.” Celebramos o legado dele todas as vezes que subimos os 242 degraus da torre do Museu da Amazônia. Proponho a cada um aqui uma visita amanhã lá em cima, de onde podemos acenar a Samuel e a Tupã.
Ilana e Denis Minev – netos de Samuel Benchimol
Ilana Benchimol Minev é administradora de empresas formada pela Fundação Getúlio Vargas com MBA em Business Law na Universidade de Miami, integra o Conselho de Administração da Bemol e da FBN (Family Business Network) Brasil, Diretora de Marketing e Eventos, do GACC e diretora da BRIL Amazonas – Câmara Brasil-Israel de Comércio.
Denis Minev é diretor-presidente da Bemol e cofundador da Fundação Amazonas Sustentável, do Museu da Amazônia, da plataforma Parceiros Pela Amazônia e parceiro do portal BrasilAmazôniaAgora. É também investidor em diversas startups amazônicas nos segmentos de bioeconomia, carbono, logística e turismo e serviu como Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Amazonas. Em 2012, foi selecionado Young Global Leader do Fórum Econômico Mundial.
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