A Líbia enfrenta uma das piores tragédias climática naturais de sua história. Autoridades locais alertam que o número de vítimas fatais pode ultrapassar a marca de 20 mil após enchentes devastadoras varrerem várias regiões do país, resultado da intensidade da tempestade mediterrânea, nomeada como Daniel.
Conforme balanço divulgado na quarta-feira, 13 de setembro, mais de 5 mil pessoas já perderam suas vidas devido à calamidade. E, conforme o mar continua a despejar corpos, as esperanças de encontrar sobreviventes diminuem, deixando o país em um estado de luto profundo. “O mar despeja dezenas de corpos constantemente”, lamenta Hichem Abu Chkiout, ministro da Aviação Civil da Líbia.
A magnitude da tempestade foi tão colossal que a destruição causada pelas enchentes foi comparada a um tsunami. As consequências foram devastadoras: a força implacável da água rompeu duas barragens e quatro pontes em Derna, uma das cidades mais afetadas. Com tal destruição, o município está quase inteiramente submerso, apresentando um cenário de completo caos e desolação.
Chkiout reforça a gravidade da situação ao discutir os futuros desafios econômicos que o país enfrentará: “A reconstrução das cidades custará bilhões de dólares”, afirmou. A necessidade de ajuda humanitária, infraestrutura e suporte para a população é urgente e inquestionável.
Além das mortes confirmadas, o mistério em torno dos desaparecidos acrescenta ainda mais desespero ao cenário. Estimativas iniciais do governo apontam para cerca de 10 mil pessoas desaparecidas. O destino destas pessoas ainda é incerto, e enquanto as buscas continuam, a nação inteira espera por respostas.
Relatos locais dão uma dimensão do terror vivenciado pela população. Durante o auge da tempestade, no domingo, 10 de setembro, moradores das proximidades das barragens relataram ter ouvido estrondosas explosões, momento em que as estruturas cederam.
A tempestade Daniel, conforme relatos de agências de notícias internacionais, concentrou sua fúria, principalmente, em cidades do leste líbio, com Derna sofrendo o maior impacto.
O futuro para a Líbia é incerto, mas o momento atual exige solidariedade, ajuda internacional e esforços conjuntos para superar este trágico capítulo da história do país
África: À Mercê da Crise Climática
A recente devastação na Líbia, causada por enchentes sem precedentes, trouxe à tona, mais uma vez, um dos debates mais urgentes da atualidade: a disparidade com que os efeitos da crise climática impactam diferentes regiões do globo. A África, apesar de ter uma contribuição mínima para as emissões globais de gases de efeito estufa, está na linha de frente quando se trata dos estragos climáticos.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM), na semana passada, lançou um alerta que ressalta a injustiça climática sofrida pelo continente africano. Em comunicado, a organização destacou: “A África é responsável por apenas uma pequena proporção das emissões mundiais de gases de efeito estufa, mas sofre desproporcionalmente as consequências das alterações climáticas. Esta situação afeta desde a segurança alimentar e os ecossistemas até os aspectos econômicos, potencializando deslocamentos, migrações e o risco de conflitos em virtude da escassez de recursos.”
Os números são alarmantes. Em 2022, desastres vinculados às mudanças climáticas afetaram mais de 110 milhões de africanos, com prejuízos econômicos superiores a U$ 8,5 milhões de dólares. A Base de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT) apontou para 5 mil mortes associadas a estes desastres.
Notavelmente, quase metade destas mortes foi devido à seca, enquanto 43% estavam relacionadas a inundações. E, lamentavelmente, o número real de fatalidades é possivelmente ainda maior, tendo em vista as dificuldades em coletar e registrar dados em algumas regiões.
Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, descreveu a situação do continente com gravidade, afirmando: “O continente é o menos capaz de lidar com os impactos negativos das alterações climáticas. Ondas de calor, chuvas torrenciais, inundações, ciclones tropicais e secas prolongadas têm efeitos devastadores nas comunidades e nas economias, elevando o número de pessoas em risco.”
Diante deste cenário, torna-se inquestionável a necessidade de uma atuação internacional conjunta e solidária para amparar regiões mais vulneráveis, como a África. A crise climática, uma consequência direta das ações humanas, demanda uma responsabilidade compartilhada, na qual os maiores emissores assumam o compromisso de auxiliar aqueles que pagam um preço desproporcional pelos efeitos desse fenômeno global.
*Com informações UOL
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