Uma parceria inédita entre universidades brasileiras e a Academia de Ciências da Califórnia revela uma biodiversidade nunca antes mapeada. Novo ecossistema tem com grande variedades de espécies em recifes de corais
Pesquisadores de instituições brasileiras, em parceria com a Academia de Ciências da Califórnia, EUA, desvelaram uma biodiversidade inédita em montes submarinos da Cadeia Vitória-Trindade, localizados próximos à costa do Espírito Santo. O estudo foi publicado na revista científica Coral Reefs, batizando o novo ecossistema de “Colinas Coralinas” por conta das extensas estruturas de recifes de coral e algas coralinas encontradas na região.
Colinas Coralinas: um paraíso em perigo
Apesar de serem ambientes bem preservados, as “Colinas Coralinas” já sofrem pressões pela mineração para a fabricação de fertilizantes e pela pesca. Resquícios de atividade humana foram encontrados durante a pesquisa. Hudson Pinheiro, um dos coordenadores do estudo e pesquisador do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (USP), alerta: “Conseguimos reunir informações sobre a ecologia e a estrutura de habitat deste ambiente tão único e remoto, que está sob ameaça iminente, com a pesca desregulada e, principalmente, a mineração”.
O mistério dos montes submarinos
Os montes submarinos da Cadeia Vitória-Trindade são considerados um grande laboratório submerso para o estudo da ecologia e da evolução da vida marinha. Isoladas e profundas, essas montanhas submarinas e ilhas formam uma espécie de trampolim entre as águas rasas da costa e a Ilha de Trindade, distante 1.140 quilômetros do continente, e representam um verdadeiro oásis no oceano, com muitas espécies encontradas apenas no local.
Ameaças à biodiversidade marinha
Os recifes de coral são considerados um dos ambientes de maior biodiversidade e produtividade da Terra. Por isso, sua exploração desordenada pode trazer consequências irreversíveis, incluindo a perda de espécies ainda desconhecidas pela ciência. A atividade de mineração na região não é de uso sustentável. “Não dá pra imaginar que esse ambiente, constituído há pelo menos 20 mil anos, poderá se recuperar. O nível de impacto sobre as espécies será muito severo”, destaca Pinheiro.
Tecnologia e a exploração submarina
A pesquisa de campo contou com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e foi realizada a partir de uma expedição marinha de 17 dias. Os pesquisadores participaram de mergulhos técnicos em grandes profundidades, usando equipamentos especiais e técnicas ainda pouco disseminadas no Brasil para explorar as características do ambiente e descrever a biodiversidade do local.
A descoberta de um novo ecossistema
As estruturas descobertas pelos pesquisadores têm forma de colina, constituídas principalmente por algas coralinas. “Os montes submarinos e as ilhas oceânicas desempenham importante papel como hotspots de biodiversidade em meio à vastidão do oceano aberto”, observa Pinheiro. Ainda de acordo com o pesquisador, correntes marinhas fortes e alternadas podem se originar e entrar nas estruturas bem abaixo do topo do recife, oferecendo refúgio e habitat para uma grande variedade de espécies.
A exploração detalhada de ambientes marinhos profundos ainda é relativamente recente no mundo todo, incluindo o Brasil. Com a ajuda de equipamentos modernos, os pesquisadores conseguiram alcançar regiões antes inexploradas. No entanto, como ressalta Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, “os riscos estão chegando antes da nossa capacidade de pesquisar e compreender toda essa rica biodiversidade”.
Como o oceano ainda é um mistério para a ciência, com apenas 20% de seu fundo mapeado, o estudo das “Colinas Coralinas” se mostra um avanço significativo no conhecimento da biodiversidade marinha. Os esforços contínuos de pesquisa e conservação se fazem essenciais para proteger esses ecossistemas únicos e, ao mesmo tempo, explorá-los de forma responsável e sustentável.
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