O sistema elétrico brasileiro já enfrenta riscos econômicos significativos devido à falta de uma política efetiva para fazer frente aos compromissos climáticos. Apesar de todos os alertas emitidos pela comunidade científica. O Brasil já enfrenta um aquecimento mais intenso do que o resto do mundo, fator essencial para urgência da implementação de um plano para garantir a resiliência do sistema elétrico. Embora a hidroeletricidade forneça mais de 60% da energia elétrica no território nacional, o planejamento ainda é feito com base nos dados históricos de chuva e operação de reservatórios, o que atesta que em pleno 2023, estamos contando com uma chuva que pode não cair devido às mudanças climáticas.
A adoção de fontes renováveis de energia – como eólica e solar – para geração de energia elétrica ainda não apresentam preços que estimulem a migração em larga escala no Brasil, influenciada tanto por pressões políticas quanto por agentes econômicos.
O país ainda investe em grandes hidrelétricas sem armazenamento e termelétricas desnecessárias, principalmente na região norte. Conforme aponta o relatório do Instituto ClimaInfo, essa postura tem como resultado a dependência de contratos emergenciais com preços elevados em momentos de crise hídrica, como ocorrido em 2021. A incorporação de fontes renováveis de energia para o setor é vital e deve ser priorizada para garantir um abastecimento seguro e econômico em eventos extremos como a estiagem que atingiu o país. O relatório, encomendado pelo Instituto ClimaInfo e lançado pela Coalizão Energia Limpa, mostra uma panorama do setor elétrico brasileiro.
O Brasil possui um grande potencial de fontes renováveis de energia, como solar, eólica e biomassa, além da hidrelétrica que já é amplamente utilizada. No entanto, o país ainda depende em grande parte das termelétricas não renováveis, que são mais poluentes e contribuem para o aquecimento global. Enquanto as hidrelétricas podem ser uma fonte limpa e renovável de energia, ela é vulnerável às mudanças climáticas e pode sofrer com a falta de chuva. Por isso, é fundamental investir em fontes de energia renovável para garantir um futuro sustentável.
Coluna Follow-Up
As hidrelétricas na Amazônia são alvo de muitas discussões e polêmicas devido aos seus impactos ambientais e sociais. É importante não esquecer o caso da Usina de Balbina, instalado no Rio Uatumã no município de Presidente Figueiredo. Por um lado, se implantada em conformidade com as devidas salvaguardas ambientais, embasadas na ciência e conhecimento tradicional local, além do máximo esforço para mitigar os impactos colaterais, as hidrelétricas podem ser uma fonte limpa e renovável de energia, entretanto a realidade tem revelado mais preocupação do que tranquilidade. Atrelados a construção dessas usinas, então o desmatamento, mudanças no curso dos rios, desalojamento de comunidades tradicionais e impactos pouco estudados na biodiversidade local. Há diferentes opiniões sobre as hidrelétricas na Amazônia entre especialistas, organizações ambientais e comunidades locais, por todas essas razões, as usinas têm sido objeto frequente de estudos e relatórios para avaliar seus impactos no cotidiano dessas localidades.
A Usina Hidrelétrica de Belo Monte, localizada no Pará, é envolta em controvérsias desde o início da operação em 2016, sobretudo em relação ao seu impacto ambiental. A micro região da Volta Grande do Xingu vem sofrendo diversos impactos mencionados em estudos recentes, realizados para avaliar múltiplas dimensões. A polêmica tem gerado movimentos de resistência e manifestações da população local, que reivindicam seus direitos e questionam a construção da usina. O licenciamento ambiental de Belo Monte é um dos pontos-centrais e tem sido alvo de diversas críticas por parte de especialistas e organizações ambientais. Segundo estudos, a empresa tem sido responsável pelo apodrecimento das águas do rio, a mortandade de peixes por fome e doenças, a extinção de igarapés e igapós, o aumento dos conflitos no campo e a usurpação do território tradicional.
Esses impactos afetam diretamente a população nativa, que depende do rio Xingu como fonte de alimento e renda. A poluição das águas e a mortandade dos peixes tem causado prejuízos à pesca e à piscicultura, prejudicando a sustentabilidade econômica das comunidades locais. Além disso, a Belo Sun tem sido acusada de desrespeitar as comunidades tradicionais e seu modo de vida, ignorando a legislação ambiental e social. A empresa tem atuado sem transparência, sem consulta prévia e sem o consentimento das populações afetadas, o que tem gerado conflitos na região.
Nas comunidades de San Fernando e Musa Karusha, localizadas na Província de Datem del Marañón na Amazônia peruana, os pescadores artesanais da etnia Kandozi têm trabalhado arduamente nos últimos anos no desenvolvimento de bionegócios utilizando os recursos do lago Rimachi e das lagoas de Huitoyacu. Este esforço tem dado frutos e, agora, a comunidade está avançando gradualmente na melhoria de sua qualidade de vida e na conservação dos recursos naturais da floresta. A pesca é uma atividade econômica vital para as comunidades ribeirinhas em toda Amazônia, é a base da subsistência. Os vastos recursos hidrobiológicos da região têm sido usurpados há séculos, no momento atual, a preservação desses recursos é mais importante do que nunca.
A bioeconomia é o caminho para a sustentabilidade das comunidades e tem sido a principal fonte de renda para muitas famílias na região. O processo manual utilizado para salgar, secar e embalar os peixes é a forma que a comunidades encontrou para sobreviver por gerações. As associações de pescadores artesanais de Katinbashi em Musa Karusha e Kachizpani em San Fernando têm sido a chave para o sucesso de seus empreendimentos. A importância do bioma amazônico é incalculável para a região. A grande variedade de espécies e recursos ainda desconhecidos pela ciência é de um valor inestimável, sua proteção é essencial tanto para as comunidades quanto para a biodiversidade em todo o mundo.
Brasil no Contexto Global
Os impactos negativos causados pelas energias fósseis são cada vez mais evidentes e têm motivado países ao redor do mundo a investirem na descarbonização. No Brasil, o cenário do setor energético precisa mudar drasticamente, com a adoção de um sistema hidro-solar-eólico competitivo, livre de emissões, barato e descentralizado. Além de reduzir drasticamente as emissões de gases poluentes, essa transição para as energias renováveis é a chave para destravar rapidamente uma nova economia em nosso Brasil tão desigual.
As energias renováveis vêm crescendo no país, mas é preciso mais. Um planejamento energético em escala nacional, que trate com a devida atenção as especificidades regionais, para garantir a segurança energética do país e aproveitar com racionalidade nosso potencial como um catalisador do desenvolvimento econômico. É de suma importância destacar que o planejamento energético é vetor primordial para impulsionar as renováveis como uma parte significativa da matriz energética do Brasil, não virá do mercado ou por inércia. É fundamental que sejam estabelecidas políticas públicas claras e eficientes para orientar investimentos e garantir a implantação de projetos que sejam deveras úteis, eficazes e façam sentido a longo prazo para o projeto de país.
Ao considerar o atual contexto, investir em renováveis como eólica, solar e hidrelétrica é uma escolha viável e que pode trazer diversos benefícios, a geração de emprego pulverizada em todo o território nacional, é a ponta do iceberg, ainda carecemos de dados mais aprofundados para estimar os impactos sociais e ambientais decorrentes dessa transformação. No entanto, é preciso vontade política e um planejamento estratégico para que essa transição seja efetiva e sobretudo benéfica para a população brasileira. As mudanças climáticas são uma realidade e este fenômeno apresenta impactos significativos em todo o globo. Por isso, as estratégias precisam ser debatidas as claras, especialmente por meio do mapeamento das vulnerabilidades. Uma das principais estratégias para garantir energia barata, limpa e segura para todos os brasileiros no futuro é aumentar a diversificação das fontes e descentralizar o sistema por meio da geração no local de consumo. Ao investir em tecnologias de energia solar distribuída, as famílias e empresas podem reduzir a dependência da rede elétrica nacional, promovendo a independência energética e reduzindo a vulnerabilidade a eventuais problemas na rede.
De acordo com recente estudo publicado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), intitulado “Sistemas Fotovoltaicos na Amazônia Legal: avaliação e proposição de políticas públicas de universalização de energia elétrica e logística reversa”, o Brasil precisa instalar pelo menos 2 milhões de painéis solares para fornecer energia elétrica à toda a Amazônia. Atualmente, um milhão de pessoas na região vivem sem acesso à energia elétrica. A pesquisa sugere a instalação de módulos fotovoltaicos e baterias para alcançar as metas de universalização do Programa Mais Luz para a Amazônia (MLA), lançado em 2020. Além disso, o trabalho do IEMA também estimou a quantidade de resíduos gerados. Os sistemas fotovoltaicos são uma solução sustentável que permite aos moradores de toda Amazônia obter energia elétrica sem precisar se conectar à rede elétrica nacional. Esse tipo de sistema utiliza painéis fotovoltaicos para capturar a energia do sol, que por sua vez é armazenada em baterias para uso posterior.
O MLA tem como objetivo fornecer energia elétrica a mais de 2,5 milhões de pessoas que vivem na região, ainda em 2023. Até o momento, o programa já instalou mais de cinco mil sistemas solares para atender a aproximadamente 34 mil famílias que vivem nas áreas remotas da maior floresta do mundo.
No entanto, há muitos desafios a serem enfrentados para que a universalização da energia elétrica na Amazônia se torne uma realidade. Em primeiro lugar, é preciso haver um investimento significativo em infraestrutura para instalar os sistemas fotovoltaicos e baterias necessários. Além disso, é importante garantir a logística reversa adequada para lidar com a quantidade de resíduos gerados por essa modalidade de energia, a fim de evitar a poluição ambiental. Apesar dos desafios, essa é uma solução viável e sustentável para fazer chegar a energia elétrica a milhões de pessoas que ainda vivem na escuridão nos rincões da Amazônia.
Convém ressaltar que, para que essas estratégias de energia limpa e segura sejam efetivas no Brasil, é necessário o aprimoramento do modelo regulatório, que ainda apresenta entraves regulatórios e tributários que afetam negativamente o desenvolvimento do setor. Em conclusão, a diversificação das fontes de energia, a produção de energia descentralizada e o fortalecimento do modelo regulatório são pontos fundamentais para garantir energia barata, limpa e segura para todos brasileiros no futuro. O momento de transformar o setor energético é agora.
Brasil Amazônia Agora publica com informações de: EPBR
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