Enquanto os trópicos sofreram aumento de 10%, no Brasil o aumento do desmatamento foi de 15%, mantendo o país como o que mais perde florestas no mundo
Desde a assinatura do Acordo de Paris em 2015, o desmatamento no Brasil aumentou significativamente, superando os índices de perda florestal em todo o mundo. Os dados alarmantes foram divulgados pela Global Forest Watch (GFW), uma ferramenta desenvolvida em parceria com o World Resources Institute (WRI) e a Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. A análise de imagens de satélite revelou um crescimento de 113,8% na área desmatada, que passou de 8.288 km² em 2015 para 17.726 km² em 2022.
Desmatamento no Brasil ultrapassa média global
O Brasil, que já era uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa, agora representa uma fatia ainda maior da perda de florestas tropicais no mundo. Em 2015, o país era responsável por 28% da cobertura florestal perdida naquele ano, e esse número aumentou para 43% em 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Jefferson Ferreira-Ferreira, coordenador de ciência de dados da WRI Brasil, destacou que a alta taxa de desmatamento desde 2015 é resultado de políticas que permitiram a manutenção dos níveis elevados de perda de cobertura florestal. A destruição ambiental registrada nesse período não apenas foi significativa, mas também sustentada, o que evidencia a necessidade de medidas mais efetivas para proteger as florestas.
“Isso mostra que as políticas ocorridas nesse período permitiram que as perdas de cobertura arbórea se mantivessem em patamares elevados”
Jefferson Ferreira-Ferreira, coordenador de ciência de dados da WRI Brasil
Brasil lidera a perda de florestas em 2022
Reafirmando uma tendência histórica, o Brasil foi o país que mais contribuiu para a perda de florestas em 2022. Além disso, registrou-se o nível mais alto de destruição não relacionada a incêndios florestais desde 2005, com um aumento de 20% em relação ao ano anterior.
A República Democrática do Congo ficou em segundo lugar no ranking de perda de florestas em 2022, com 5.126 km² desmatados. Gana teve um crescimento de 71% na perda florestal em comparação com o ano anterior, enquanto a Bolívia registrou um aumento de 32% em relação a 2021, alcançando 3.855 km² de área desmatada.
Embora 145 países tenham assinado um acordo para frear o desmatamento até 2030, reconhecendo o papel das florestas no combate às mudanças climáticas e à perda de biodiversidade, a cobertura florestal global diminuiu 9,7% no último ano. Contrariando as expectativas, o desmatamento continua a crescer em vez de diminuir.
A perda de quase 18 mil km² de floresta no Brasil em 2022 resultou na liberação de 1,2 gigatoneladas de CO2 na atmosfera, equivalente a mais de 2,5 vezes as emissões anuais de combustíveis fósseis do país. A perda florestal aumentou 14,4% em relação a 2021. A GFW monitora formações florestais na Amazônia, cerrado, pantanal e mata atlântica.
Amazônia e Amazonas: os principais focos do desmatamento
Segundo Mikaela Weisse, diretora do GFW, a perda de floresta primária está acelerando no oeste da Amazônia e no estado do Amazonas, onde o desmatamento dobrou nos últimos três anos. As áreas desmatadas na Amazônia ocidental são caracterizadas por abertura de clareiras maiores para pastagens de gado, além de invasões de territórios indígenas para mineração e grilagem de terras.
Necessidade de incentivos preventivos para evitar o desmatamento
Frances Seymour, especialista sênior em desenvolvimento sustentável e florestas do WRI, ressalta a importância de estratégias de financiamento para prevenir o desmatamento, citando o exemplo do Fundo Amazônia, baseado no mecanismo REDD+ que recompensa resultados positivos na redução do desmatamento. A rápida mudança nas condições ambientais do Amazonas demonstra a necessidade de aumentar a oferta de incentivos preventivos para evitar o desmatamento.
“O que estamos vendo no Amazonas é uma evidência de que só porque as florestas foram protegidas no passado não significa que as condições não possam mudar rapidamente e levar a um rápido aumento do desmatamento. E, portanto, precisamos aumentar a oferta de incentivos preventivos, como uma forma de incentivar os países a evitar o desmatamento”
afirma Frances Seymour
Um estudo recente do WRI Brasil, em colaboração com a comissão New Climate Economy, denominado “Nova Economia da Amazônia” aponta que o Brasil tem o potencial de interromper o desmatamento na Amazônia e, ao mesmo tempo, promover crescimento econômico em setores-chave, desde o agronegócio até a energia limpa. Essa transformação exigiria o uso de práticas agrícolas e pecuárias sustentáveis, restauração de áreas degradadas, investimentos em bioeconomia e adoção de tecnologias de baixo carbono.
De acordo com a análise, a região amazônica brasileira poderia experimentar um crescimento anual de mais de R$ 40 bilhões no PIB até 2050, em comparação com o sistema produtivo atual. Além disso, essa transição criaria 312 mil novos empregos somente na Amazônia Legal, beneficiando as comunidades locais.
Com informações da Folha de São Paulo e WRI Brasil
Comentários