Em Paris, acordo juridicamente vinculante é costurado para regular o plástico.
Delegados de mais de 170 países se reuniram em Paris no início de junho para estabelecer prazos para a elaboração do primeiro acordo global de regulamentação do uso do plástico. O objetivo é elaborar o primeiro rascunho do texto em cinco meses e a versão final até 2024. Analistas consideram esse esforço um primeiro passo otimista em direção a um futuro mais limpo.
A discussão surge em meio a crescentes preocupações em todo o mundo com a poluição plástica, que afeta tanto o solo como os oceanos e causa problemas à saúde humana. O esboço do acordo será apresentado em novembro em uma reunião no Quênia, enquanto os delegados franceses esperam manter o ritmo de negociações o mais intenso possível.
Apesar das dificuldades envolvidas na negociação de um acordo global que regulamente o uso de plásticos, a diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU), Inger Andersen, enfatizou a necessidade de um tratado “amplo, inovador, inclusivo e transparente” que atenda as necessidades das nações em desenvolvimento.
Outro problema que precisa ser resolvido é a criação de um design mais sustentável para produtos de plástico, assim o uso desses precisa ser repensado. Andersen menciona como todos no encontro estavam “correndo contra o relógio”, mas que se mantivessem o ritmo, irão mudar a situação atual.
Ao estabelecer esses acordos, é possível que no futuro próximo tenhamos ideias viáveis para controlar o acúmulo de plástico, bem como fomentar a pesquisa e inovação de novos produtos mais sustentáveis, a fim de eliminar gradualmente produtos de uso único. É certo que serão necessários gritos de alerta de todos os setores da sociedade a fim de garantir que a mudança aconteça em tempo hábil.
Desde meados do século passado, o plástico se tornou um recurso quase indispensável na vida moderna. É barato e seu uso é diversificado em todo o mundo. Contudo, a poluição decorrente da sua produção e utilização é preocupante. A produção global de plástico aumentou de 2 milhões de toneladas em 1950 para quase 400 milhões atualmente. Menos de 10% dos produtos plásticos são reciclados, e grandes volumes de resíduos acabam em aterros sanitários, incineradores ou no meio ambiente.
O relatório publicado pela Organização Mundial de Conservação da Vida Selvagem (WWF) em maio deste ano revelou que cerca de metade de todo o plástico do mundo serve para produtos de curta duração ou de uso único, e a maioria é utilizada em países mais desenvolvidos. Isso é preocupante, dadas as consequências da decomposição do plástico, que pode levar centenas de anos.
Em entrevista durante o lançamento do relatório, Marco Lambertini, delegado da WWF, destacou a importância do momento para que a situação não piore: “Se não agirmos agora, a situação só vai piorar. No ritmo atual, a produção global de plástico dobrará até 2040, o vazamento de plástico em nossos oceanos triplicará e o volume total de poluição plástica em nossos oceanos quadruplicará. Não podemos permitir que isso aconteça”. Prazos e metas rigorosas para esse tipo de negociação trazem otimismo sobre a possibilidade de elaborar acordos globais de regulamentação para o uso do plástico.
A preocupação com a saúde do meio ambiente e dos seres humanos tem crescido em meio à proliferação do plástico. Um estudo da Universidade Médica de Viena descobriu que os humanos podem estar ingerindo uma média de cinco gramas de microplásticos por semana, mais ou menos o peso de um cartão de crédito, por meio de alimentos, ar e água, causando possíveis impactos de longo prazo ainda desconhecidos.
O futuro sobre os plásticos é um problema global que deve ser abordado com medidas rigorosas e ambição. O Comitê Internacional de Negociação (INC, na sigla em inglês) sobre poluição plástica tem pouco mais de cinco meses para redigir o primeiro rascunho do tratado antes de uma reunião em Nairóbi, com o objetivo ambicioso de assinar um acordo definitivo e legalmente vinculante até o final de 2024. No entanto, observadores temem que o futuro tratado sobre plásticos não tenha o escopo necessário para lidar com os diferentes aspectos da poluição plástica.
Um novo artigo da Chatham House e da Global Water Partnership afirma que o tratado sobre plásticos servirá como uma ferramenta crucial para aprimorar sua governança global. Porém, as lições deixadas pelas negociações climáticas mostram que um acordo internacional no estilo do “Acordo de Paris” pode não dar o resultado esperado. A diretora de comunicação da Global Water Partnership, Niamh Brannigan, destaca que a falta de dados confiáveis sobre a poluição plástica e o desalinhamento das prioridades econômicas e da infraestrutura em diferentes países podem limitar o impacto do tratado.
Alguns analistas expressaram preocupação com o foco na reciclagem e na gestão de resíduos, em vez de combater a crescente produção e advogar pela redução do uso de plástico. A produção global de plástico dobrou nos últimos 20 anos e está previsto que dobrem novamente nos próximos 20, o que é totalmente insustentável.
Em meio à proliferação do plástico, cresce a preocupação não só com a saúde do meio ambiente, mas também dos seres humanos. Um estudo da Universidade Médica de Viena descobriu que os humanos podem estar ingerindo uma média de cinco gramas de microplásticos por semana — mais ou menos o peso de um cartão de crédito — por meio de alimentos, ar e água, causando possíveis impactos de longo prazo ainda desconhecidos. Dada à dimensão global desse problema, observadores temem que o futuro tratado sobre plásticos não tenha o escopo, a ambição e as medidas rigorosas necessárias para lidar com esses diferentes aspectos.
Em um artigo de 2021, Tallash Kantai, pesquisadora do Centro de Direito e Governança Ambiental da Universidade de Strathclyde, na Escócia, disse que lidar com o plástico apenas quando ele se torna um resíduo e confiar na reciclagem como uma solução mágica “poderia levar o mundo a um ciclo sem fim de resíduos”.
Países latino-americanos tiveram papel de destaque nas discussões do tratado até o momento, liderados pelo economista peruano Gustavo Meza-Cuadra, que atuou como presidente do INC sobre a poluição plástica nas duas primeiras sessões. Após a reunião de novembro em Nairóbi, a presidência ficará com Luis Vayas, vice-ministro das Relações Exteriores do Equador.
Espera-se que o tratado seja assinado enquanto um país latino-americano ou caribenho presidir o INC, de acordo com Gonzalo Muñoz, empresário chileno e um dos representantes da América Latina no INC. Ele disse que isso ressalta o papel central da região no desenvolvimento do tratado.
“Há países que se destacam pela presença e liderança neste debate”, disse Muñoz. “Chile, Equador e Colômbia têm um histórico de avanços nessas questões”.
Publicado pelo Brasil Amazônia Agora com informações de: DIÁLOGO CHINO
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