Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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A transferência de riqueza e a geração de riqueza são questões basilares para a construção do futuro em qualquer sociedade. Enquanto ficarmos apenas retirando recursos naturais da Amazônia, destruindo, explorando, exaurindo, estaremos apenas dilapidando um patrimônio ambiental. Propostas e projetos que visam exaurir estes recursos no longo prazo deveriam ser repudiados, tanto quanto possível, para que possamos começar a produzir riqueza que não seja simplesmente corroída pelo tempo.
O mercado estimado para a biotecnologia no mundo foi de 1.4 trilhões de dólares em 2022, sendo mais de 50% alocado para a saúde, segundo o instituto Grand View Research. Como se trata de tecnologia, é importante esclarecer que é necessário que exista um domínio tecnológico para a construção de riqueza maiúscula, sendo que não existe teoria sem prática. Tecnologia é a junção de conhecimento científico, conhecimento prático (know-how) e meios de produção (representados tipicamente por capital). Enquanto não houver o efetivo tripé, não há domínio tecnológico.
A extração burra e desenfreada, destruindo recursos naturais é o que mais longe há da biotecnologia, que prega abordagem distinta. Para a OCDE, a aplicação de ciência e tecnologia a organismos vivos, bem como peças, produtos e modelos, para alterar materiais vivos e não vivos para a produção de conhecimento, bens e serviços é o que se entende como biotecnologia. Falar disso é fácil. Muito difícil é transformar isso em resultado econômico, pois precisa de tempo, gente e recursos abundantes, apesar de já ser uma realidade em muitos locais.
Dias atrás participei de um evento de biotecnologia, onde tive a oportunidade de assistir ao CEO e fundador da Regeneron, Leonard Schleifer, que em 1998 iniciou uma startup e a transformou em uma das principais empresas de biotecnologia do mundo. Ao longo da fala, ele destacou que consumiu bilhões de dólares para chegar aos produtos que possui. Também destacou o quanto foram importantes a pesquisa básica e a integração de pesquisadores diversos, com a formação de uma comunidade com confiança entre investidores e cientistas.
Precisamos urgentemente disto no Brasil, para que a Amazônia não vire mero alvo para exploração financeira, como analisado por Ladislau Dowbor e outros autores. O que queremos em 20, 30 ou 50 anos? Um monte de buracos na floresta desmatada ou empresas com base tecnológica? Estas indústrias deverão ser multinacionais usando destrutivamente as riquezas da biodiversidade ou teremos comunidades de todas as nações aproveitando os recursos da floresta em pé? Queremos brasileiros ou estrangeiros na liderança?
Sem ciência e tecnologia não há liderança, construção tecnológica ou biotecnológica. Sem universidades, alunos, pesquisadores, não há ciência. O esforço será grande e é pouco provável que façamos sozinhos, mas entregar para grileiros destruírem ou estrangeiros explorarem são erros do passado que não podem ser repetidos. Estamos em um mundo que depende mais e mais da ciência, tecnologia e inovação. Precisamos compreender e agir no caminho que constrói bionegócios, para não encontrarmos um novo tipo de dependência ou de destruição.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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