FUNAI – O poço dos escândalos do (des)governo do inominável não tem fundo. O mais novo absurdo – certamente não o último – envolve a compra de pescoço de galinha para indígenas da Amazônia no ano passado. Sem licitação, o quilo do produto foi adquirido pelo governo federal por R$ 260 – 52 vezes mais caro que os R$ 5 cobrados em grandes supermercados.
Responsável pela aquisição do pescoço, a coordenação regional da FUNAI no Rio de Madeira (AM) comprou também mais de uma tonelada de charque, maminha, coxão duro, alcatra e latas de presunto na época da COVID-19. Os alimentos, porém, nunca foram distribuídos a comunidades indígenas.
A situação piora quando se conhece os fornecedores. A empresa do pescoço de galinha é a JL Comércio de Eletrodomésticos, que fica em Humaitá (AM) e tem como dono Herivaneo Vieira de Oliveira Junior, de 23 anos. Ele é filho de um ex-prefeito da cidade, Herivaneo Vieira de Oliveira, do PL, que cuida do negócio e já foi preso por ataques a órgãos ambientais, destaca o Estadão.
As outras carnes deveriam ter sido entregues pela Loja do Crente Rei da Glória, também de Humaitá. A empresa entregou cestas básicas, mas sem esses produtos.
O contrato assinado com a JL envolveu a compra de 20 quilos de pescoço de galinha, totalizando R$ 5.200. O produto se destinava a indígenas do Povo Mura e a funcionários da FUNAI em missão em Manicoré, no Amazonas. Não há, entretanto, registro de entrega do produto.
O jornal já havia denunciado a compra – e o sumiço – de 19 toneladas de bisteca adquiridas pelo desgoverno Bolsonaro para indígenas do Vale do Javari, no Amazonas, e funcionários da FUNAI que atuavam na região. Por conta disso, informa o Estadão, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou na terça-feira (16/5) que a Polícia Federal instaurou um inquérito para apurar o escândalo.
O Povo Yanomami também foi vítima de um golpe do inominável envolvendo alimentos. Infelizmente, foi apenas uma de tantas agressões e descasos. Documentos da FUNAI obtidos pela Agência Pública revelam a debilidade das respostas da autarquia nos governos Bolsonaro e de Michel Temer (2016-2018) a uma série de cobranças e denúncias feitas por diferentes órgãos, parlamentares e entidades a respeito da invasão garimpeira, da desnutrição e das doenças na TI Yanomami.
O garimpo ilegal tem sido o problema mais difícil de ser resolvido. Por trás dele há organizações criminosas como o PCC e o Comando Vermelho, que vêm sustentando a resistência de garimpeiros que insistem em ficar no território Yanomami, detalha o UOL.
A última ação dos criminosos contra o trabalho do governo federal de desintrusão do território ocorreu na segunda (15/5), informa o g1. Garimpeiros armados voltaram a atacar a base de fiscalização montada no rio Uraricoera para impedir o acesso de invasores à TI Yanomami. Os criminosos abriram fogo contra agentes do IBAMA e da Força Nacional que atuam na comunidade de Palimiú e conseguiram destruir a estrutura que dava suporte ao cabo de aço instalado no meio do rio.
Enquanto tenta expulsar os garimpeiros, o governo corre para devolver condições mínimas de saúde ao Povo Yanomami. O grupo de trabalho criado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) chegou esta semana a Roraima para se reunir com lideranças indígenas. A proposta é monitorar ações realizadas na TI em meio ao estado de emergência em saúde, decretado em janeiro em razão de grave crise sanitária, informa a Agência Brasil e o Poder 360.
O escândalo do pescoço de galinha foi destaque na imprensa, com repercussão em UOL, Carta Capital, Terra, Estado de Minas, Metrópoles, Brasil 247 e Congresso em Foco, entre outros.
Em tempo 1: Com apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a bancada do agronegócio conseguiu o número de assinaturas necessárias para pautar um requerimento de urgência para o projeto de lei 490/2007, do marco temporal. Caso seja aprovado, o requerimento de urgência leva o PL direto para o plenário da Câmara, suprimindo a tramitação nas comissões temáticas já na mesma sessão. Ainda não há data para que seja votado, revela a Folha.
Em tempo 2: A marca francesa de luxo Cartier usou o Povo Yanomami para fazer um greenwashing descarado – além de violar direitos de imagem. Até dois meses atrás, a Cartier mostrava em seu site uma imagem de crianças Yanomami brincando em um campo verde.
No texto, dizia que estava apoiando a Associação Yanomami Hutukara em “iniciativas avançadas de proteção e reflorestamento” no território. Mas o projeto descrito nunca aconteceu. E a Cartier publicou a foto sem a autorização da liderança Yanomami, explica o g1.
Outro contrassenso é uma marca de joias se aproveitar da imagem dos Yanomami, que vêm sofrendo com o garimpo ilegal em seu território. A marca diz que não compra ouro extraído ilegalmente, mas os líderes Yanomami recomendam que as pessoas não comprem joias de ouro, independentemente de sua origem.
“Como uma joalheria de ouro, contra a qual nós Yanomami somos contra, pode usar a imagem dos Yanomami?” perguntou Júnior Hekurari, integrante do grupo indígena e chefe do conselho de saúde Yanomami.
Texto publicado em CLIMA INFO
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