Estudo realizado pelo Institutos Escolhas, órgão de estudos ambientais do INSPER, mostra que reduzir em 1% pessoas na extrema pobreza está associado à diminuição em 4% do desmatamento
Em que medida a redução do número de pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza e do aumento de postos no mercado formal de trabalho pode colaborar com o fim do desmatamento no Brasil? É esta a pergunta respondida pelo estudo O combate à pobreza pode contribuir para o fim do desmatamento no Brasil?, lançado pelo Instituto Escolhas, nesta terça-feira, dia 7. A investigação permite, pela primeira vez no contexto brasileiro, que o desmatamento seja analisado em conjunção com formas de privação econômica em uma escala geográfica ampla, abarcando todo o território nacional.
“O estudo parte da premissa de que a atividade de desmatamento é insalubre, arriscada e indesejável para os indivíduos que a executam na ponta. E testa a hipótese de que a diminuição da pobreza ou o aumento na disponibilidade de trabalho formal implicariam uma redução do desmate, pois aumentariam a capacidade dos indivíduos optarem por atividades econômicas menos insalubres”, explica Jaqueline Ferreira, gerente de portfólio do Escolhas e responsável pela coordenação da pesquisa.
Os resultados do estudo – de acordo com a modelagem econométrica aplicada e tomando como referência o período 2012-2019 – mostram que a redução de 1% no índice da população em situação de extrema pobreza, com renda familiar mensal inferior a R$ 70 por pessoa, está associada à redução de 42,7 mil hectares no desmatamento total do país. Já o aumento em 1% do índice de empregos formais – ou o equivalente a mais 462 mil pessoas com emprego formal no país – tem relação com a diminuição do desmatamento em 87,6 mil hectares, uma área superior ao tamanho do município de Goiânia.
O resultado é bastante significativo para a Amazônia Legal, que acumulou 52% do desmatamento em todo o país no período analisado (2012-2019), e Região Norte, onde o índice de emprego não atingiu nem 10% da população e o de pobreza chegou a 30% no período analisado.
Ao olhar para a Amazônia Legal, o estudo revela que a redução em 1% no índice de pessoas em situação de extrema pobreza tem o potencial de reduzir esse crime ambiental naquela região em cerca de 27 mil hectares. Enquanto isso, o aumento de 1% em empregos formais em todos os municípios da região, equivalente a 42 mil pessoas com emprego formal, pode diminuir o desmatamento em 67,2 mil hectares, uma área maior do que o município de Florianópolis.
Desde o período pré-eleitoral, o combate à fome e à miséria, assim como o desmatamento zero, são citados como pautas centrais do governo Lula 3. Em seu discurso na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP27), em novembro do ano passado, Lula afirmou que o cuidado com o meio ambiente é indissociável da luta contra a pobreza. O lançamento do Escolhas reafirma a importância de unir essas duas frentes, como detalha Jaqueline: “Os dados confirmam a urgência de incluir o combate à pobreza e a geração de empregos formais no rol de estratégias prioritárias para manter a floresta em pé, junto a políticas de controle do desmatamento e responsabilização daqueles que lucram com a atividade.
É importante destacar que são os indivíduos em situação de vulnerabilidade os que mais sofrem com o desmatamento, seja porque são eles que ocupam os postos de trabalho precários e de baixa remuneração na cadeia do desmatamento ou porque são atingidos com maior intensidade pelos impactos da crise climática – como secas, chuvas intensas, alagamentos e aumento do preço dos alimentos.”
Sobre o Instituto Escolhas:
O Instituto Escolhas desenvolve e compartilha estudos e análises sobre temas fundamentais para o desenvolvimento sustentável, trazendo abordagens inovadoras dos principais desafios socioambientais e construindo soluções baseadas em dados e evidências em conformidade com o rigor do método científico.
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Fonte: Instituto Escolhas
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