Mesmo com a ciência consolidada em torno da urgência da crise climática, negacionistas ainda encontram campo fértil nas redes sociais. Um estudo recém-publicado na Nature Climate Change por pesquisadores do Reino Unido mostrou que usuários e postagens com conteúdo que contesta a mudança climática ganharam espaço no Twitter nos últimos anos, com destaque para o período da COP26, a Conferência do Clima de Glasgow, no final do ano passado.
Segundo a análise, conteúdos negacionistas tiveram um aumento de 16 vezes na quantidade de compartilhamentos entre 2014, ano anterior à COP21 que resultou no Acordo de Paris, e 2021. O crescimento das postagens negacionistas no Twitter tem relação direta com a presença do ativismo de direita, que ganhou espaço na última década e catapultou lideranças mais extremistas ao centro do poder.
Expansão dos negacionistas
O estudo sugere o ano de 2019 como um marco para a expansão do negacionismo climático no Twitter. Naquele ano, as manifestações da juventude contra a crise do clima, encabeçadas pela ativista Greta Thunberg ganharam destaque e despertaram críticas entre os negacionistas.
Desde então, a emergência de outros grupos ativistas, como o Extinction Rebellion e o Just Stop Oil, serviram para reforçar essa estratégia de enfrentamento virtual dos negacionistas.
“Nós vimos que, até a COP26, não havia tanta polarização, porque muitas pessoas discutindo sobre a conferência tendiam a concordar que as mudanças climáticas eram uma emergência. No entanto, ocorre uma grande mudança na COP26 que confirmamos ao procurar tuítes genéricos sobre [o assunto]”, explicou Andrea Baronchelli, da City, University of London e coautor do estudo, à Folha.
A pesquisa defende que o combate à desinformação precisa ser intensificado, sob o risco de gerar uma distorção grave no debate público. “A mídia social pode atuar como uma câmara de eco onde as crenças existentes das pessoas são reforçadas. É muito importante que os reguladores continuem a encontrar maneiras de garantir que o conteúdo compartilhado online seja preciso”, afirmou Baronchelli.
O caso do Twitter ganha contornos mais relevantes se considerarmos as mudanças recentes – e polêmicas – na gestão da empresa. Comprado pela bagatela de US$ 44 bilhões por Elon Musk, o Twitter promete ser bem menos cuidadoso no combate à desinformação e ao discurso de ódio.
Como destacou Melissa Fleming, subsecretária-geral da ONU para comunicação global, o negacionismo climático aproveitou esse ambiente de “faroeste” para ganhar espaço no Twitter durante a COP27.
“É vital que o bom senso prevaleça. Aqueles que vendem mentiras sobre a crise climática aproveitarão todas as oportunidades para negar, atrasar e enganar. Todos aqueles que procuram corroer a confiança na ciência, enfraquecer a determinação pública e atacar aqueles que buscam ações representam uma grande ameaça ao nosso futuro. Não podemos lhes ceder mais espaço”.
Texto publicado originalmente em CLIMA INFO
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