Projeto Amazônia 2030 apresenta soluções para o desenvolvimento econômico sustentável da floresta, com ganhos em múltiplas áreas para o país e o mundo
O país está chegando ao fim destes quatro anos de governo com a sensação de que está tudo perdido em relação à Amazônia. Porém, o olhar por outro ângulo surpreende. O desmatamento cresceu, mas essa área vazia permite expandir a agropecuária sem derrubar novas árvores. O fim do desmatamento criará enormes oportunidades, e renda, para o Brasil. A população amazônica é mais jovem do que a do resto do país, mas a taxa de desemprego chega a 40% entre 25 e 29 anos. Com um bom projeto, esses jovens podem ser a força propulsora do desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Esse outro olhar, para as chances que ainda temos, está num estudo inédito que a coluna conseguiu de três grandes especialistas. Beto Veríssimo, co-fundador do Imazon, Juliano Assunção, economista da PUC-Rio e diretor do Climate Policy Initiative, e Paulo Barreto, pesquisador do Imazon. O texto se chama “O paradoxo Amazônico” e faz parte do projeto Amazônia 2030, que tem estudado profundamente inúmeros aspectos da região com profissionais de diversas áreas.
Tenho escrito que nunca como agora a Amazônia está numa encruzilhada. É muito arriscado continuar na rota da destruição seguida pelo governo Bolsonaro. Há, contudo, um caminho virtuoso. O olhar de Veríssimo, Assunção e Barreto é animador porque mostra que cada dificuldade pode ser também uma grande chance, se tomarmos a trilha certa.
Em 50 anos, o Brasil desmatou o equivalente ao território da Espanha e da Itália somados. E houve uma piora recente. Só de janeiro a agosto de 2022 foram 8.000 quilômetros destruídos. Há extensas áreas degradadas, houve aumento dos conflitos sociais, quase todo o desmate é ilegal, o crime se fortaleceu. É muito irracional esse caminho. O absurdo é tal que a “Amazônia Legal, com menos de 9% do PIB do país, gerou 52% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, a maioria devido ao desmatamento e às queimadas”, diz o estudo.
Por outro lado, o Brasil tem uma experiência excelente (veja gráfico). Quando, entre 2004 e 2012, o país conseguiu reduzir em 84% o desmatamento da floresta amazônica, o PIB agropecuário da região mais que dobrou. Essa história prova que é possível unir progresso e proteção.
A demografia traz outra revelação. Em 50 anos quadruplicou a população na região. Enquanto no Brasil se fala em fim do bônus demográfico, a Amazônia está em pleno bônus. Até pelo menos 2030 a região terá mais pessoas em idade produtiva, entre 18 e 64 anos, do que crianças e idosos. Está perdendo essa enorme chance com a altíssima taxa de desemprego de jovens, que também não estudam. A violência cresce na região, a taxa de homicídios foi, em 2020, 40% superior à do resto do país. Os pesquisadores informam que com educação de qualidade, acesso à internet, tecnologia e empregos, a força jovem pode alavancar o desenvolvimento.
O que eles mostram ao analisar o paradoxo é que se os problemas forem enfrentados eles se transformam em grandes oportunidades. A redução do desmatamento geraria US$ 18 bilhões em crédito de carbono até 2030, como o oferecido pela Coalizão Leaf, um fundo privado que financia a preservação de florestas tropicais. Ele paga por redução das emissões provenientes do desmatamento. Se subir o preço da tonelada, o valor chegará a US$ 25 bi.
A produção e a exportação de produtos típicos da floresta podem subir, ocupando áreas que já foram desmatadas e ainda sobrariam grandes regiões para a regeneração. São produtos como açaí, frutas tropicais, peixes, castanha-do-brasil, cacau, pimenta do reino. Esse é um mercado que movimenta US$ 175 bilhões por ano no mundo e o Brasil ocupa apenas 0,3% desse bolo. Somos menos competitivos que países como Bolívia, Costa Rica e Vietnã.
Termina-se a leitura do texto convencido de que não é hora de desanimar, apesar das terríveis notícias que vêm da região. Ainda é possível virar o jogo na Amazônia.
Fonte: O Globo
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