O ministro da agricultura parece não ter qualquer preocupação com os dados alarmantes sobre o desmatamento da Amazônia nos últimos anos. Em evento para uma plateia de ruralistas, Marcos Montes lamentou o que ele chamou de “exagero” propagado pelas imprensas nacional e internacional em uma “guerra de narrativas”. “Não conseguimos mostrar pra sociedade urbana a força que o agro tem. Isso contaminou lá fora e estão usando a questão ambiental como barreira para não deixar o Brasil ganhar mercados”, disse Montes.
O sucessor de Tereza Cristina na pasta da agricultura ainda minimizou os sucessivos recordes de desmatamento no Brasil no último semestre. Para ele, o problema da perda da competitividade está na publicidade em torno dos dados do desmatamento, e não no desmatamento em si – um raciocínio em linha com o que pensa o atual presidente da República, que vira-e-mexe fica bravo com o INPE pelos dados de desmate, mas não pela destruição florestal que seu governo patrocina. A notícia é do De Olho nos Ruralistas.
Por falar em ruralistas, Daniele Bragança elencou no site ((o)) eco as prioridades políticas da Frente Parlamentar da Agropecuária neste 2º semestre de 2022. O calendário está apertado, por conta das eleições de outubro, mas a bancada ruralista quer esforço concentrado na aprovação de projetos como o PL 1.458/2022, vulgo “PL do Veneno”; o PL 2.159/2021, que flexibiliza o licenciamento ambiental; e o PL 510/2021, também conhecido como “PL da Grilagem”.
De boiada em boiada, a política ambiental e climática do Brasil está sendo dilapidada pelo governo federal e pelo Congresso Nacional. “Não há como negar a correlação da crise climática com a Democracia. Não há como evitar a conexão entre desmandos institucionais e danos ambientais, como o desmatamento e o garimpo ilegal. Não se pode fechar os olhos para a escalada do crime e da violência nas áreas com os maiores recursos naturais do planeta e a conexão de milícias e forças paramilitares com o populismo”, escreveram a ex-ministra Izabella Teixeira, Francisco Gaetani, Roberto Waack e Renata Piazzon (Instituto Arapyaú) no Valor. “A sociedade pode escolher que caminho deseja seguir. Desde que a democracia vigore plena e absoluta. E não há neutralidade possível frente a esta escolha”.
Na mesma linha, Míriam Leitão e Alvaro Gribel escreveram n’O Globo a importância de que o próximo governo, supondo que este presidente não será reeleito, retomar a agenda ambiental no Brasil. Esse esforço não pode ser isolado ou individualizado em alguns políticos ou partidos políticos, mas precisa ser feito de maneira coletiva, com um amplo arco ideológico-partidário e envolvimento ativo da sociedade civil. “Esta é uma hora decisiva para o Brasil e quem vai à Amazônia sente isso ao pisar naquele chão. Um novo governo que não seja a continuação do atual terá muito trabalho a fazer nessa agenda perdida ambiental e climática. Todo o cuidado é pouco neste fim de governo e fim de legislatura”.
Texto publicado originalmente por CLIMA INFO
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