A capacidade de entender e aceitar críticas pertinentes poderá construir um país muito melhor. Ao invés de reclamar de quem critica, precisamos entendê-lo melhor ou explicar mais detalhadamente como pensamos. Isso é democracia.
Por Augusto César Rocha
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Ao longo das últimas semanas detalhei meu pensamento com respeito às conexões que não se conectam e conexões necessárias, pelo entorno da palavra “senso”, a partir de uma crítica que realizei e outra que recebi. A capacidade de falar e de ser ouvido, com visões semelhantes ou dissonantes dos mandatários é fundamental. Afinal, criticar é ótimo e construir é difícil. É ótimo quando se constrói algo e se gera resultado expressivo para muitos. Destruir é muito diferente de criticar, por isso Executivos entendem bem disso e adoram críticas para a melhoria.
A caquistocracia que predomina (palavra trazida à tona pelo jornalista José Roberto de Toledo, que significa “o sistema de governo onde os líderes são os piores, menos qualificados e/ou mais inescrupulosos cidadãos”) reflete muito os embates dos últimos tempos, junto com outra palavra, democracia (“regime de governo cuja origem do poder vem do povo”). Entender onde e como estamos em cada momento é um desafio. Cada pessoa tem o seu poder relativo, algum espaço e alguma capacidade de falar e de ser ouvido. Entretanto, a questão é: o alvo é construir algo eficiente e melhor para mais pessoas ou destruir? É fazer de conta que se faz ou fazer efetivamente?
Se não há medição, não há método, não há alvo, não há espaço para crítica, qualquer resultado está bom. Se o alvo é destruir, então criticar por criticar é ótimo e fácil. Difícil é fazer. Muito difícil é fazer com amplos resultados, pois os países são cheios de castas ou tribos. No nosso, há uma profunda desigualdade e amplas mazelas, com um enorme potencial aproveitado por poucos. Fica evidente que será mais fácil criticar e muito difícil fazer. É fundamental a capacidade de debater, de ouvir quem discorda no entorno de um objetivo de construção.
Ainda bem que vez por outra, uma universidade (como a USP), um empresário (como Gustavo Ioschpe), colocam luzes sobre questões que não são unanimidades, mas que precisam ser ditas. A audácia e o espaço para discordar dos “poderosos” é importante. Este é um dos motivos que me faz apreciar Universidades. Um dos lados negativos é que, ao desenvolver o senso crítico da construção, tipicamente somos (aparentemente) uma eterna “oposição” para governos, pois costumamos apontar erros e saídas para problemas da sociedade, dos alunos e de quem nos perguntar algo.
Algumas vezes temos razão, outras não. Mas somos pouco apegados às ideias, pois vamos perseguindo melhores soluções por evidências científicas, com novos alunos a cada período, respeitando as suas particularidades e credos. A crítica a um aluno ou a uma sociedade é sempre voltada para que ela brilhe. No final, quando o aluno “passa”, é mérito dele. Pena que quando “reprova”, é culpa do professor. Estamos acostumados com isso e não deixamos de criticar, por isso o apego à democracia e a repulsa pela caquistocracia.
O senso da democracia, onde há espaço para a crítica e para o debate é ótimo. A liderança não pode ser dos piores, nem de uma elite que só olha para si. Precisamos de uma construção ampla, considerando o espectro de conservadores e de progressistas. Não podemos chamar destruidores de conservadores ou sectários de democratas. É indispensável ter calma e conversar. Falar e ser ouvido. É possível discordar da pessoa, sem condená-la. Podemos pensar diferente – a necessidade de querer que todos pensem igual é inaceitável. Impor apenas o que quero não é só autoritário – é algo inaceitável. Achar que tudo o que faço está perfeito também é.
A capacidade de entender e aceitar críticas pertinentes poderá construir um país muito melhor. Ao invés de reclamar de quem critica, precisamos entendê-lo melhor ou explicar mais detalhadamente como pensamos. Foi isso que fiz. Se não foi suficiente, explicarei mais. Se foi e a pessoa continua discordando de mim, não tem importância – não seremos inimigos por isso. Estou disposto a ouvir e a falar contra-argumentos racionais. Vamos construir juntos? Ou alguém está apaixonado pela caquistocracia? Eu não estou. Prefiro a democracia, a meritocracia e a adhocracia, por isso assinei o documento da USP e convido quem me lê a assinar também.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/07/por-que-decidi-votar-no-pt-pela-primeira-vez.shtml
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