Tupã é um velho conhecido da equipe da Associação Onçafari. Esse macho de onça-pintada é monitorado desde 2017. Estima-se que tenha cerca de nove anos e já teve relacionamentos com várias fêmeas que vivem no Pantanal. Atualmente possui um colar VHF, que emite sinal de rádio e através dele, é possível localizar o animal.
Recentemente, o time do Onçafari se deparou com Tupã e fez um flagrante pra lá de raro. Ele tinha abatido uma anta e estava comendo sua carcaça na beira de uma açude próximo ao Caiman Pantanal, na região do município de Miranda, no Mato Grosso do Sul.
“Estávamos em campo procurando onças para ajudar os safaris que estavam em passeio, quando pegamos o sinal do colar VHF do Tupã, super habituado e tranquilo com a presença dos carros. Fomos seguindo o sinal até que, ainda sem vê-lo, percebemos que dentro do açude tinha uma carcaça bem grande, fomos nos aproximando até que o avistamos deitado à beira do açude, bem tranquilo. Olhamos melhor para o que estava dentro d’água e era uma anta, que ao que tudo indicava havia sido abatida por ele algumas horas antes de chegarmos”, contou ao Conexão Planeta o biólogo e guia do Onçafari Bruno Sartori Reis.
Segundo ele, nos dez anos do projeto, este é apenas o quarto registro de uma onça predando um anta, o maior mamífero terrestre da América do Sul. “É uma presa muito difícil, um animal muito grande que pode chegar aos 200 kg. Esta era uma jovem adulta, que tinha 1,75 de comprimento”, revela.
O biólogo explica que entre esses felinos é comum que após se saciarem com a presa, depois descansem. E Tupã fez exatamente isso. Depois de ficar satisfeito, saiu de perto e seguiu para uma sombra em meio a mata para tirar um cochilo.
“Neste ponto nossa equipe se dividiu para monitorar o Tupã e podermos nos aproximar da carcaça para poder fazer o registro, então com o guincho arrastamos a carcaça para a beira do açude onde tiramos as medidas, fotos das marcas de mordida e arranhado e instalamos câmeras trap para termos um monitoramento 24 horas por dia para saber o que aconteceria”, diz.
Como era a anta era grande, Tupã permaneceu próximo à carcaça por quase cinco dias para se alimentar. Além dele, outras onças também monitoradas pelo Onçafari desfrutaram do banquete. Uma delas foi a Isa, uma das primeiras onças-pintadas no mundo a serem reintroduzidas com sucesso na vida selvagem. Ao lado dela estava a sua filhote, Oriba.
“Isso é algo que percebemos aqui, quando não existe uma escassez de recursos ou há uma carcaça bem grande, as onças se toleram e permitem que outras se alimentem da mesma carcaça”, afirma o biólogo.
Texto originalmente publicado em Conexão Planeta 10/05/2022
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