Infelizmente a notícia não é nada boa. Após se tornar uma praga nas últimas décadas no Mar Mediterrâneo e no Caribe, onde houve uma proliferação sem controle da espécie, o peixe-leão parece estar se alastrando também pelo litoral brasileiro. Depois de dezenas deles terem sido encontrados em Fernando de Noronha, a Secretaria de Meio Ambiente do Ceará confirmou no início de março que oito indivíduos foram coletados no norte do estado.
Durante a expedição realizada pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pescadores da região foram achados peixes-leões nas águas dos municípios de Camocim, Acaraú, Cruz e também no Parque Nacional de Jericoacoara, em Jijoca.
E nos últimos dias, moradores da Praia de Bitupitá, em Barroquinha, no litoral oeste cearense também relataram a coleta de um número enorme de peixes-leões. Segundo reportagem do portal G1, apenas em dois dias foram mais de 20 deles presos nas redes de pesca.
Os pescadores dizem que já sentem o efeito da presença da espécie invasora, que os peixes locais estão desaparecendo. “Não deu mais nada. Pouco peixe. Não sei se esse peixe-leão está interferindo na vida dos outros peixes. Tem peixe pouco na rede e nas gaiolas. Não vimos mais com a mesma frequência o espada, a sardinha, a anchova e guarajuba, por exemplo. Aparece, porém, com menos frequência”, contou David Alves da Silva.
Além disso, um pescador que pisou num peixe-leão precisou ser levado para o hospital, com dores no peito. Peçonhento, o animal possui espinhos venenosos nas nadadeiras dorsais, que podem provocar muita dor.
“É muito preocupante que esses registros sejam em ambientes rasos porque pode significar que o peixe-leão já está espalhado por outras regiões do país. O processo de invasão pode ser bastante rápido, afetando a biodiversidade local, a pesca artesanal, o turismo, sendo também um problema de saúde pública”, ressalta Marcelo Soares, pesquisador do Labomar.
Nativo dos Oceanos Índico e Pacífico, esse peixe (Pterois volitans ou P. miles) é um predador. Em recifes de corais, se alimenta vorazmente de outros peixes. Em seu habitat natural, ele é controlado pela cadeia alimentar, onde é presa de espécies de garoupas e até por tubarões. Mas longe desses inimigos, se reproduz rapidamente e sem controle. Uma fêmea pode colocar até 2 milhões de ovos por ano.
No Brasil, o registro do primeiro peixe-leão aconteceu em 2014, no litoral de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro. Mas ao longo dos últimos anos, o número de casos vem aumentando. Análises feitas em laboratório com os indivíduos coletados em Fernando de Noronha revelaram que ele já se alimenta de outras locais e pode se reproduzir a qualquer momento.
Já há relatos da presença do peixe-leão no litoral dos municípios de Luís Correia e Cajueiro da Praia, no Piauí, e em recifes da foz do Rio Amazonas, entre os estados do Amapá e Pará.
“Por sobreviverem em diferentes habitats e alcançarem grandes profundidades (de 1m a 100m), o manejo das populações invasoras é difícil. Mesmo com programas de capturas intensas em zonas rasas, visto que a espécie pode se reproduzir em águas mais profundas, o controle é um desafio”, diz Soares.
O pesquisador alerta que, caso alguém aviste ou tenha informações sobre o peixe leão no Brasil, pode repassar os dados através do SIMAF ou entrar em contato com [email protected]. “Se você é um pescador, não devolva o peixe-leão para o mar. Busque os órgãos competentes e informe o acontecido, pois é preciso monitorar essa espécie. Também ressaltamos que o peixe-leão é venenoso, podendo inocular veneno pelas nadadeiras dorsais e, por isso, não deve ser manipulado sem proteção. Indicamos para mais informações o guia elaborado pelo ICMBio“.
Fonte: Conexão Planeta
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