Sermos percebidos como uma sub-raça ou uma casta inferior poderia fazer sentido, mas não pode ser “apenas” isso, por mais abjeto que seja refletir sobre a hipótese. Mas temos que compreender, para que possamos romper um “que” de subserviência real ou dissimulada. Precisamos entender o ódio. Precisamos encontrar uma sociedade que busque uma autodeterminação amazônica, enquanto há tempo, enquanto há ZFM e enquanto há floresta.
Por Augusto César Rocha
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Isabel Wilkerson fez uma análise em um livro publicado pela Zahar sobre Castas. Seth Godin fez um livro sobre as tribos, fora do conceito tipicamente usado para “índios”, mas para os aglomerados humanos. Ambos são reflexões valiosas que se impõem para compreensão das condições e sobre o quanto podemos ser unidos para objetivos grandiosos, tanto para a odiosa exclusão social, quanto para a maravilhosa construção de grandes desafios.
A construção da Amazônia próspera é um mega desafio. Mas talvez tenha uma crueldade: é um otimismo tolo, porque não temos nada na história que indique que isso seria uma missão possível de ser realizada. Pior que isso, sempre há alguém nos combatendo – sorrateiramente ou declaradamente. Estamos por aqui faz séculos e até hoje não existe um projeto nacional para a região. Pior que isso: o pouco que existe de prosperidade é recorrentemente atacado. Será que estamos chegando num “despertar”, uma vez que há uma radicalização contra a região?
Será que temos uma ausência de castas? Ou as nossas castas são desunidas? Ou será que sequer somos reconhecidos por nós mesmos como detentores de direitos e soberanias? A relação de Manaus com Brasília, com São Paulo ou Rio de Janeiro tem sido muito mais uma aproximação com um ar de superioridade-inferioridade do que com uma busca de semelhanças e construções conjuntas.
Quando transcenderemos a situação? Enquanto não houver uma clareza e uma geração de riqueza com base naquilo que somos únicos, não teremos esta condição. As gerações de riquezas com base em questões distantes da nossa natureza sempre levarão a algum tipo de questionamento. Mesmo assim, é urgente manter as dinâmicas atuais e somar novas obras para a prosperidade.
Já temos clareza no que somos únicos. Acontece que sempre há uma tentativa de destruição, quer seja da floresta, quer seja da ZFM. Todos já compreendemos o que é feito contra nós. Não consigo ter clareza das razões. O que leva um governo a atacar a ZFM? O que leva um governo a atacar tribos ou a preservação da natureza? Tenho muita dificuldade para compreender. Precisamos que os Cientistas Sociais e Políticos nos ajudem a entender.
Sermos percebidos como uma sub-raça ou uma casta inferior poderia fazer sentido, mas não pode ser “apenas” isso, por mais abjeto que seja refletir sobre a hipótese. Mas temos que compreender, para que possamos romper um “que” de subserviência real ou dissimulada. Precisamos entender o ódio. Precisamos encontrar uma sociedade que busque uma autodeterminação amazônica, enquanto há tempo, enquanto há ZFM e enquanto há floresta.
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