Os efeitos da estiagem severa que afeta os três estados do sul do Brasil e também o Mato Grosso do Sul desde o ano passado estão agora estampados nas quebras de safra, que já somam 25,2 milhões de toneladas de grãos, e nos prejuízos no campo, contabilizados em R$ 71,9 bilhões. Logo mais, esses custos chegarão também ao bolso dos consumidores, como aponta reportagem publicada nesta 3ª feira (15/2) no Estadão. Estima-se que a produção de milho, um grão essencial para a alimentação de animais, deverá ser a mais afetada, podendo pressionar ainda mais o aumento da inflação.
“No Rio Grande do Sul, por exemplo, a seca provocou a quebra de 70% na produção do milho da primeira safra e 48,7% na da soja”, informa o Estadão. Os produtores rurais que fizeram seguro de suas safras estão tendo de recorrer a ele, devido à perda de grãos. Outros estão tendo de bancar o prejuízo por conta própria.
O produtor José Antônio Borghi, que planta soja há 50 anos em Maringá, no norte do Paraná, disse ao Estadão nunca ter presenciado uma seca tão forte. Foram cerca de 80 dias, desde fins de novembro, praticamente sem chuvas e com temperaturas extremamente altas. “As plantas foram morrendo”, lamentou ele, que também é presidente do sindicato dos produtores do município. Em algumas regiões, as perdas chegaram a 100% das lavouras, segundo ele.
Bráulio Borges, pesquisador-associado do FGV-Ibre e economista-sênior da LCA, escreveu um artigo no Valor mostrando o quanto a falta de chuvas atingiu o que chamou de “década perdida”, no período entre 2012 e 2021. Ele aponta que as precipitações em território brasileiro, no acumulado do ano passado, foram quase 28% menores do que na média observada em 1980-2019. Além dos prejuízos no campo, isso contribui com o aumento dos custos de energia e afeta o Produto Interno Bruto. O pior é que a escassez hídrica é um problema que vai se agravar, em decorrência da crise climática. O economista afirma, ainda, que o desmatamento só agrava a situação.
Também no Valor, Daniela Chiaretti mostrou como os pré-candidatos à presidência estão se posicionando diante do tema clima e ambiente, e mostrou que Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro têm discursos diametralmente opostos com relação à crise climática. Chiaretti destacou, ainda, como as mudanças climáticas agravam a desigualdade social, e sinalizou o quanto os municípios onde os eventos extremos causam maiores impactos estão ainda despreparados para priorizar investimentos nas áreas com maiores riscos de tragédias. Em ano eleitoral, aprender a ler as entrelinhas é fundamental para não se embarcar em canoa furada.
Fonte: ClimaInfo
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