Nem quando nossos supostos “liberais de quermesse” estão no poder se abre mão de controlar suas políticas de investimentos e de preços e de cometer sucessivos abusos do poder do controlador. As distorções econômicas se espalham por todos os cantos da economia e da sociedade.
Márcio Holland
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Somos seres curto prazistas. Gostamos de sonhar com o futuro, mas somos aficionados com os ganhos e as frustrações de curto prazo. O Brasil é uma nação que pensa com a cabeça no ano calendário. Contraditoriamente, a superação de nosso estado de quase subdesenvolvimento depende de pensarmos sobre onde queremos chegar e como queremos chegar. Nos exaurimos na discussão sobre como atingir o equilíbrio fiscal do ano, ou sobre qual deve ser a taxa Selic na próxima reunião do Copom. Somos tímidos em discutir sobre como vamos superar a armadilha da renda média ou a semiestagnação de produtividade do trabalho.
Para nosso desespero, o longo prazo não é a soma linear dos curtos prazos. Convido o leitor a um exercício de paciência. A rever nossa história recente e tentar entender por que estamos tão atados à mediocridade de nosso desenvolvimento. Começo ousando afirmar que as instituições socioeconômicas e políticas brasileiras não são robustas o suficiente para permitir grandes saltos na taxa de crescimento econômico. O Estado brasileiro mantém-se preso ao patrimonialismo descrito por Raimundo Faoro, já em 1958, conforme primeira edição de “Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro”.
Na essência, o Estado brasileiro está a serviço de interesses privados, corporativistas e, muitas vezes, com o fim em si mesmo, a serviço de sua elite burocrática. Se Faoro era liberal por lograr um Estado democrático, impessoal e racional, devemos ser todos liberais. Não deveria haver objetivo maior para a construção de uma nação do que a igualdade de oportunidades e um Estado a serviço igualitário de todos os seus cidadãos. Não temos esse atributo. Não conseguimos seguir a diante com tranquilidade.
O populismo tacanho, de esquerda e de direita. Ambos destroem a noção de equilíbrio das contas públicas como bem público e distorcem os escassos recursos públicos para poucos apadrinhados. O orçamento secreto blindado de cortes presidenciais é apenas uma das faces obscuras desta fraqueza institucional. É prova, talvez, de que essa análise que te convido a fazer pode estar no caminho certo.
Outro exemplo que apresento é o de que temos mais empresas estatais do que ex-economias da “cortina de ferro” socialista do Leste Europeu. Nem quando nossos supostos “liberais de quermesse” estão no poder se abre mão de controlar suas políticas de investimentos e de preços e de cometer sucessivos abusos do poder do controlador. As distorções econômicas se espalham por todos os cantos da economia e da sociedade.
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