Entre agosto de 2020 e julho de 2021, INPE mediu 8.531 km² de desmatamento no bioma, maior cifra desde 2015. Números foram divulgados no apagar das luzes de 2021
O desmatamento no Cerrado aumentou 7,9% entre agosto de 2020 e julho de 2021, alcançando a marca de 8.531 km². A cifra, que corresponde a uma área equivalente a sete vezes a cidade do Rio de Janeiro, é a maior desde 2015. Desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, a devastação do Cerrado aumentou 17%.
Assim como aconteceu com a divulgação do desmatamento recorde na Amazônia, os números da destruição no Cerrado também foram escondidos pelo Governo Federal. A Nota Técnica com a cifra oficial do desmatamento no Cerrado foi enviada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável pela medição, ao Ministério da Ciência e Tecnologia no dia 6 de dezembro. Os números, no entanto, só foram publicados no apagar das luzes de 2021, no dia 31 de dezembro, sem que houvesse qualquer divulgação sobre o assunto.
Segundo apurou ((o))eco, a definição da data e forma de divulgação dos dados do desmatamento no bioma é feita pelo MTCI, assim como acontece com os dados oficiais do desmatamento na Amazônia.
((o))eco entrou em contato com a pasta comandada pelo astronauta Marcos Pontes, questionando o motivo da demora na divulgação dos números, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.
Desmatamento por estados
A taxa medida pelo INPE e a porcentagem de aumento considerou os novos limites do Bioma, modificados pelo IBGE em 2019.
Segundo o Instituto, o estado que mais devastou o bioma foi o Maranhão, com 2.281 km² de desmatamento, seguido pelo Tocantins (1.710 km²) e Bahia (925 km²). Esses três estados, junto com o Piauí, possuem as maiores porções de Cerrado e compõem a fronteira agrícola da chamada Matopiba (nome formado pela junção das primeiras sílabas desses quatro estados).
Além deles, Goiás foi responsável por 920 km² de supressão da vegetação nativa de Cerrado no período, Mato Grosso por 803 km², Minas Gerais por 802 km², Piauí por 583 km², Mato Grosso do Sul por 287km², Pará por 192 km², Rondônia por 18,21 km² de desmatamento, além do Distrito Federal, com 4,55km², São Paulo, com 1,28 km², e Paraná, com 0,07 km².
Desmatamento no Cerrado e crise hídrica
O Cerrado concentra oito nascentes das 12 bacias hidrográficas brasileiras, por isso é considerado a “Caixa d´água” do país. É também no bioma onde acontece a maior expansão da produção de grãos do Brasil. A atividade foi a responsável por destruir quase 50% da cobertura original do Cerrado.
O aumento na devastação do Cerrado é má notícia diante da crise climática e hídrica que o país atravessa. Ao desmatar a vegetação nativa para dar lugar à soja e ao milho, as raízes profundas do bioma – que fizeram com que ele fosse conhecido como “floresta de cabeça para baixo” – também são perdidas, tendo como consequência a menor disponibilidade de água para as importantes bacias hidrográficas que o Cerrado abriga.
A mais recente edição das Projeções do Agronegócio, divulgada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, prevê a expansão da área plantada na região do Matopiba de pouco mais de 8 milhões de hectares para algo entre 9,3 e 11,6 milhões de hectares até a safra de 2030/2031. Esse território formato pelo MA, TO, BA e PI seria responsável por produzir de 36 milhões a 46,7 milhões de toneladas de grãos, segundo o documento.
Monitoramento do Cerrado
A divulgação da alta na destruição do Cerrado acontece em um ano em que o monitoramento do desmatamento no bioma esteve sob risco de ser descontinuado. Em julho de 2021, ((o))eco revelou que a falta de repasses do Governo Federal ao INPE poderia significar o fim dos programas Deter e Prodes-Cerrado a partir de agosto daquele ano.
Um remanejamento de recursos do programa do Banco Mundial que mantém o monitoramento no bioma – FIP Cerrado – possibilitou a continuidade dos trabalhos durante 2021. Os recursos do FIP Cerrado estavam previstos somente até 2020.
Como solução para falta de orçamento em 2022, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a quem o INPE é vinculado, negociou, ao longo do ano passado, com o Ministério da Agricultura (MAPA) a alocação da equipe do FIP Cerrado para outro programa mantido pelo Banco Mundial: o FIP Paisagem, gerido pelo Serviço Florestal Brasileiro, do MAPA.
Esta solução, no entanto, valeria somente para 2022. A partir de 2023, a incerteza sobre a continuidade dos programas de monitoramento do Cerrado permanece.
Fonte: O Eco
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