A fauna marinha bentônica do Brasil abrange um diversificado rol de animais que vai desde pequenos moluscos, cujas conchas podem ser vistas facilmente ao caminhar pela praia, até vermes e estrelas-do-mar. Esses organismos podem ser encontrados em áreas mais rasas e também em águas profundas, muitas vezes acessíveis apenas por meio de expedições em navios científicos.
Mesmo com os animais em mãos, identificar as espécies que compõem essa biodiversidade pode ser um desafio até mesmo para biólogos experientes. Com essa demanda em mente, pesquisadoras da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) lançaram em outubro o segundo volume do Manual de Identificação dos Invertebrados Marinhos da Região Sudeste-Sul do Brasil. O primeiro volume foi lançado em 2005 e será reeditado no ano que vem.
Disponível para venda no site da Edusp, a nova publicação contempla 225 espécies descritas por 21 especialistas e ilustradas por 1.200 fotos.
O manual reúne resultados de grandes projetos que vêm sendo desenvolvidos no Brasil, três deles no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP: “Biodiversidade marinha bêntica no Estado de São Paulo”, “Biodiversidade e funcionamento de um ecossistema costeiro subtropical: subsídios para gestão integrada” e “Consolidação de coleções científicas de invertebrados marinhos: estratégias para conservação da biodiversidade”.
“Esta obra constitui uma importante ferramenta na formação de pessoas que têm como objetivo conhecer ou aprofundar-se no conhecimento desses animais, para atuar em áreas da ecologia e/ou zoologia e, consequentemente, participar da gestão dos nossos recursos naturais. Com esse manual, esses profissionais poderão auxiliar na conservação e na preservação da nossa fauna”, destaca Cecília Amaral, professora do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, idealizadora do projeto e uma das organizadoras do manual.
A organização é assinada ainda por Tatiana Menchini Steiner e Michela Borges, pesquisadoras do IB-Unicamp.
As 225 espécies são divididas em três grandes grupos (filos): moluscos (invertebrados que possuem conchas), poliquetas (vermes marinhos) e equinodermos (estrelas-do-mar e bolachas-do-mar, entre outros).
As fotos são acompanhadas de informações para rápida identificação, porém de qualidade, com referências bibliográficas para descrições mais aprofundadas. Além das informações taxonômicas, os autores ficaram responsáveis pelas ilustrações e fotos que ajudam na identificação, algumas realizadas com técnicas de microscopia eletrônica.
“Embora o critério para uma espécie entrar no manual seja o fato de ocorrer nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, muitas ocorrem também em outras partes do nosso litoral. Por isso, o manual pode também ser utilizado por profissionais de outros Estados”, explica Steiner.
No primeiro volume, de 2005, foram 185 espécies contempladas. Para o terceiro, as organizadoras planejam começar a preparação já no próximo ano. “Diferentemente das publicações científicas mais comuns, como artigos e livros, o manual tem um objetivo mais didático, com linguagem simplificada, sem deixar o rigor científico de lado”, completa Borges.
O número de espécies conhecidas da fauna brasileira de invertebrados marinhos representa apenas entre 1% e 2% do que é descrito na literatura especializada em nível mundial, uma diversidade subestimada devido à escassez de estudos faunísticos e taxonômicos, segundo as pesquisadoras.
Para Amaral, grandes projetos de pesquisa, como os financiados no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP, são essenciais para conhecer melhor esses e outros organismos e avançar na sua conservação. “Precisamos saber o que temos para poder preservar”, diz.
Fonte: Agência FAPESP
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