Um grupo de pesquisadoras que conduzia uma série de testes sobre contaminação por mercúrio em mulheres que vivem e trabalham em um local de garimpo em Vila Nova, no Amapá, sofreu ameaças de garimpeiros da região, com direito a uma caminhonete incendiada como “recado” caso a pesquisa fosse adiante. Phillippe Watanabe trouxe essa história na Folha.
A pesquisa era coordenada pela Rede Internacional de Eliminação de Poluentes (IPEN) e pelo Instituto de Pesquisa sobre Biodiversidade (BRI), com foco nos impactos do garimpo na saúde das mulheres que vivem no entorno da exploração ilegal de ouro. Apenas uma parte do trabalho de campo foi efetivamente realizada, já que as ameaças inviabilizaram o restante da pesquisa.
Nas amostras obtidas pelas cientistas, foi possível detectar a contaminação por mercúrio, metal pesado utilizado no garimpo para separação do ouro. A contaminação por mercúrio pode resultar em problemas sérios de saúde, afetando órgãos vitais como cérebro, rins e fígado, além de resultar em problemas de desenvolvimento dos fetos nas mulheres grávidas.
Enquanto isso, o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), defendeu nesta 2ª feira (6/12) a autorização de uma série de projetos de pesquisa e exploração de ouro em áreas preservadas na Amazônia. A decisão foi tomada pelo ex-general no âmbito do Conselho de Defesa Nacional, o qual preside e que tem responsabilidade por analisar projetos de mineração em áreas de fronteira no Brasil.
“É legal autorizar a pesquisa/lavra de minerais, na faixa de fronteira, inclusa a Amazônia. Respeitadas a legislação e o meio ambiente, continuaremos a mapear nossas riquezas pelo bem do Brasil e do nosso povo”, disse Heleno em sua conta no Twitter. O ministro não explicou por que autorizou empresas autuadas por crimes ambientais a realizar a exploração de ouro em áreas preservadas da Amazônia.
No Amazonas, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um procedimento de apuração para averiguar as autorizações de mineração emitidas pelo Conselho de Defesa Nacional. No Congresso Nacional, a senadora Eliziane Gama (MA) e o deputado federal Marcelo Freixo (RJ), além da bancada legislativa do PSOL, anunciaram que contestarão essas decisões junto à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal. A Folha deu mais detalhes.
Em tempo: No Estadão, André Borges informou que o INCRA decidiu reduzir uma área de assentamento de reforma agrária no Pará, criada há mais de duas décadas, para abrir espaço a um projeto de mineração de uma multinacional. Encabeçado pela mineradora canadense Belo Sun, o “Projeto Volta Grande” promete ser o maior empreendimento de exploração de ouro do Brasil, extraindo ouro nas margens do rio Xingu, logo abaixo da usina de Belo Monte, em Altamira (PA). De acordo com a reportagem, o INCRA assinou um acordo com a mineradora no qual cortará o assentamento Ressaca e a gleba Ituna, em troca de uma fazenda localizada no município de Luciara (MT), a mais de 1,5 mil km de distância.
Fonte: ClimaInfo
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